Doses maiores

26 de julho de 2022

Modernidade tecnológica e arcaísmo social

Em seu livro “Do transe à vertigem”, Rodrigo Nunes destaca setores intermediários da população que, segundo suas palavras:

...estão permanentemente numa espécie de meio do caminho: consumo elevado, mas à custa de endividamento; diploma universitário, mas sem brilho e em instituições de pouco prestígio; empresa própria, mas nunca operando numa margem inteiramente confortável sem recorrer à evasão de impostos e outros expedientes ilegais.

Para Nunes, é daí que sai a maioria dos seguidores mais aguerridos da nova direita. E também muitos de seus organizadores e intelectuais orgânicos.

Mas diferente dos “fascistas históricos”, que contavam com organizações de massa altamente disciplinadas, concebidas à imagem de um exército paralelo, esses similares contemporâneos:

...se assemelham mais a um enxame de empreendedores desbravando um nicho de mercado. Valendo-se de plataformas digitais em vez de formas mais tradicionais de organização, eles conectam uma demanda (frustrações, mágoas e desejos variados) a uma oferta (acolhimento, explicações, soluções e válvulas de escape).

Assim, afirma o autor:

...tudo indica que vivemos numa espécie de era de ouro da fraude. Se no passado um bom embusteiro sempre plantava um ou dois cúmplices no meio do público para ajudá-lo a atrair suas vítimas, na internet ele pode ter tantos cúmplices quanto lhe couberem no orçamento.

O prêmio para quem “vence na vida”, afirma ele, é ocupar uma posição na qual as normas que se aplicam aos outros se tornam facultativas: pagar impostos e ser punido por infrações, por exemplo.

Não difere muito, portanto, da posição do antigo senhor de engenho ou do patriarca, conclui o filósofo.

Modernidade tecnológica e arcaísmo social. Tudo a ver com o capital.

Leia também: A sintonia do fascismo com as dissonâncias capitalistas

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