No artigo “Hipocrisia”, publicado no portal “A Terra é Redonda”, a psicanalista e escritora Maria Rita Kehl aborda a questão do direito ao aborto.
Ela argumenta, por exemplo, que considerar o feto uma vida humana não faz sentido. Afinal, afirma, a sociedade não dispensa ao embrião que sofreu aborto espontâneo “os rituais religiosos, orações e sepultamento digno”, que seriam devidos “à forma de vida incipiente que, acidentalmente, se perdeu”.
Ainda segundo Maria Rita, não se trata de defender sacramentos religiosos “para os embriões perdidos por abortos espontâneos”. Mas de “argumentar contra a carolice hipócrita de quem condena o aborto incondicionalmente”.
“Sou obrigada a ser rude, continua ela, por falta de um bom jeito de nomear o que se faz, nas choupanas mais pobres e nos mais caros hospitais, com o embrião de poucas semanas expulso do corpo da mãe por um aborto espontâneo: ele é jogado no lixo.”
O texto foi escrito antes do escândalo envolvendo os terríveis crimes do anestesista estuprador no Rio de Janeiro. Mas serve para colocar em evidência as condições em que ocorrem anualmente os milhares de abortos clandestinos.
Afinal, se nem mesmo intervenções médicas legalizadas estão livres das piores violências contra as mulheres, o que esperar de clínicas que realizam interrupções de gravidez à margem da lei?
A articulista encerra afirmando que o “machão carola que condena o aborto com frequência é o mesmo que abandonou mulher e filhos e desaparece para não ter que conceder a pensão prevista em lei”.
Mas também podem ser aqueles que se sentem autorizados a cometer os crimes mais hediondos porque são diplomados.
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