Doses maiores

28 de fevereiro de 2023

Quando inovações tecnológicas tornam-se barreiras ao bem-estar coletivo

Em certa fase de seu desenvolvimento, as forças produtivas materiais da sociedade entram em contradição com as relações de produção existentes. De formas de desenvolvimento das forças produtivas, estas relações transformam-se em seus entraves.

O trecho acima é do Prefácio à “Contribuição à Crítica da Economia Política”, de Marx, de 1859. Simplificando um pouco, digamos que forças produtivas seriam algo como vapor, eletricidade, petróleo, energia nuclear, informática, internete, etc.

Um das consequências mais importantes do surgimento de cada uma dessas forças produtivas deveria ser maior bem estar para a humanidade. Principalmente, pela eliminação de muito trabalho humano perigoso, exaustivo, insalubre, aborrecido.

Um exemplo de força produtiva surgida recentemente é a inteligência artificial e o ChatGPT é a grande novidade nesse campo. O programa causou espanto porque conversa e escreve textos como se fosse gente.

Tal como todas as outras inovações produtivas, poderia servir para livrar milhões de pessoas de tarefas repetitivas e sem sentido. Mas tal como aquelas todas outras inovações, o objetivo, mesmo, é livrar os patrões e empregadores da necessidade de empregar pessoas.

E aí que entram as relações de produção, que podemos chamar de relações sociais. No capitalismo, tais relações limitam todo o bem-estar que o chamado progresso tecnológico traria a uma minúscula minoria que pode comprá-lo e ainda lucra monopolizando o acesso a ele.

Em seu texto, Marx diz que quando esse choque ocorre, “surge uma época de revolução social”. Ou seja, aparecem sintomas de que é hora de nos livrar das relações sociais impostas pelo capital. Pode até ser, mas ainda nos falta muita inteligência humana para chegar a tanto.

Leia também: ChatGPT: contra o desemprego, em defesa das pessoas

4 comentários:

  1. Bom texto, gostei já o prefácio de chamada para leitura dele. São esses espinhos que nós marxistas nos debatemos a séculos sem uma resposta convincente, OK que exista essa contradição, mas a minúscula parcela da sociedade, a burguesia, vive desfrutando dela sem levar a cabo a tal revolução socialista.

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    1. Sim, dizer que se abre uma época de revolução social não quer dizer que ela virá.

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    2. Pois é, não é a mesma coisa, mas dizer que se abre espera-se que ela aconteça em algum momento, ou pelo menos que se explique por que se fechou. Essa é a minha indagação.

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    3. A questão é o que significa "época". Se for o momento a partir do qual o desenvolvimento das forças produtivas pioram ao invés de melhorar a situação da grande maioria, o período teria se aberto já na Revolução Industrial e ainda estaríamos vivendo nele. Do ponto de vista da história da humanidade, não faz tanto tempo. É como aquela frase atribuída a um dirigente chinês, quando pediram a opinião dele sobre a Revolução Francesa: “Ainda é muito cedo para avaliar” (dizem que houve um erro de tradução e ele entendeu Revolução Chinesa). Nesse caso, as revoluções russa, chinesa, cubana etc, seriam apenas os primeiros sinais da necessidade de mudança.

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