Doses maiores

2 de fevereiro de 2023

O potencial anticapitalista dos espaços exílicos

Encerrando os comentários sobre o livro “Vivendo nas Fronteiras do Capitalismo”, de Denis O'Hearn e Andrej Grubačić, é importante destacar alguns pressupostos dos estudos apresentados na obra.

Em primeiro lugar, as recentes pesquisas do campo marxista-feminista apontando para a centralidade da reprodução e do trabalho reprodutivo na constituição da sociedade. Eles demonstrariam que a transformação do capitalismo requer não uma mudança fundamental na inovação tecnológica, mas nas relações sociais, em que a reprodução de nossas vidas é organizada como um processo coletivo e não mais subordinado à valorização do capital.

Em segundo lugar, estudos influenciados pelos escritos de Kropotkin sobre cooperação e associação voluntária levaram recentemente à criação de um novo campo de estudo: a pesquisa comparativa de espaços não estatais como expressões geográficas de cooperação e ajuda mútua que podem estar em contradição com o desenvolvimento do capitalismo.

A partir daí, O'Hearn e Grubačić fazem duas suposições: 1 - que as regras de desenvolvimento de espaços não estatais são independentes do capitalismo mundial e 2 - que os atores que povoam espaços não estatais estão totalmente fora do capitalismo.

Os autores chamam tais espaços de exílicos. Sua hipótese central prevê que esses espaços e seus atores interagem com processos, instituições e atores do sistema mundial, sendo necessário investigar como e em que grau essa interação limita sua autoatividade e como esses limites mudam ao longo do tempo.

A tradição marxista reluta em aceitar a existência de espaços externos ao capitalismo. Mas o que importa aqui é menos o debate teórico e mais o potencial anticapitalista das lutas abordadas pela obra. Sem dúvida, valiosas.

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2 comentários:

  1. Realmente estou com aqueles que entendem que não existem espaços independentes ou fora do capitalismo, principalmente estes que o livro e as Pílulas trazem (só li as Pílulas), que, pelo contrário, acho muito integrados ao sistema capitalista. Lembrei das comunidades do passado que tinham um modo de vida que pretendiam ser alternativas ao sistema capitalista, e que também não achava. Estes das Pílulas são movimentos bem anticapitalistas, mas até por ser "anti", entendo estarem bem dentro. Mas, como diz, o importante é o que eles trazem de oposição, denúncia e alternativas ao sistema capitalista. Eu pensei em algo que se gesta dentro, cria uma estrutura fora e retorna contra ele. Valiosos, sim.

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