Doses maiores

28 de junho de 2023

Lula: três canoas e um iceberg

O saudoso Vito Giannotti costumava dizer, em suas aulas, que Getúlio Vargas caiu porque tinha uma pé em cada canoa. De um lado, a canoa da classe operária. Do outro, a dos patrões e latifundiários. Quando as duas tomaram rumos diferentes, “tchibum pra Getúlio”.

A política de Lula sempre sofreu de mal parecido. Mas, ultimamente, apareceu uma terceira embarcação. Além dos barcos dos trabalhadores e do grande capital, se destaca o do ambientalismo.

O problema é que essa terceira canoa também está sob comando do grande capital, o que acaba inviabilizando sua navegação. Afinal, é impossível preservar o equilíbrio ambiental sem superar a submissão total à busca de lucros que é a razão de ser do capitalismo.

A principal função do ambientalismo capitalista tem sido a de servir de pretexto para as políticas comerciais que protegem os interesses das economias centrais. Depois de impor seu modelo colonial destrutivo em todo o planeta, elas cobram responsabilidade ecológica fora de suas fronteiras. É mais ou menos disso que falava Lula em frente à torre Eiffel, dias atrás.

Mas retórica bonita nada pode contra uma poderosa broca perfurando todas as embarcações ao mesmo tempo. No comando da furadeira o grande capital nacional e transnacional. Sua ala agro-destruidora odeia Lula. Apesar dos enormes lucros obtidos nos mandatos petistas, causa-lhe pânico a possibilidade de perder uma pequena lasca de seus latifúndios para trabalhadores rurais, indígenas e quilombolas. Já as alas industrial-financeiras-parasitárias, observam satisfeitas o governo aceitar a carta de navegação imposto pelo Banco Central.

Lula segue em seu exercício de equilibrista. Mas há um iceberg de tragédias sociais no horizonte.

Leia também: As “massas” não são ingratas, ignorantes ou traidoras

2 comentários:

  1. Muito boa Pílula, cheia de boas metáforas, e com abertura no parágrafo inicial de uma quase fábula contada por essa figura incrível que foi o Giannotti.

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