Havia quatro torcidas na cidade. De repente, explodiu uma divergência quanto ao vencedor da principal competição. Convocado para arbitrar, o governante decidiu apoiar o seu competidor. O resultado foi uma explosão social em que as forças de segurança foram massacradas, a cidade foi quase toda dominada e as massas queriam a cabeça das autoridades.
Estamos falando da Revolta de Nice, ocorrida no ano de 532, em Constantinopla. O governante era o imperador Justiniano. A polêmica era sobre qual cavalo vencera uma corrida. Nice, o animal pelo qual a população torcia, chegara empatado com a montaria que pertencia ao imperador.
Claro que a revolta não aconteceu somente por causa do resultado da competição. Muitos problemas vinham se acumulando ao longo dos anos: fome, falta de moradia e impostos elevados estavam entre eles.
Além disso, as “torcidas” haviam-se transformado em "partidos políticos". Mas, até então, os imperadores vinham jogando uns contra os outros. Quando Justiniano decidiu em benefício próprio provocou a união de forças que levou à rebelião.
Justiniano ameaçou abandonar o trono, mas, convencido por Teodora, sua mulher, decidiu reagir. Encarregou o general Belisário de atacar o hipódromo, que servia de quartel-general para os revoltosos. Cerca de trinta mil foram degolados.
O episódio lembra as constantes revoltas de torcidas de futebol no Brasil. Tal como em Constantinopla, os motivos ultrapassam o âmbito esportivo. São resultado de contradições e problemas acumulados durante muito tempo.
A diferença é que, atualmente, acreditamos estar em um patamar civilizatório superior. Olhamos para o passado como se estivéssemos deixando as trevas para trás sem perceber que elas estão bem diante de nós.
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As competições exacerbam e "permitem" que a revolta latente fique presente?
ResponderExcluirOu serve como uma válvula de escape pra ela também. É uma tese meio que aceita esta, do esporte substituir a guerra. Acho que o esporte massificado e extremamente monetizado atual é que mistura tudo.
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