Doses maiores

12 de junho de 2023

Junho de 2013: em busca do ninho da serpente

“Junho talvez seja a primeira grande revolta popular na história brasileira a ter sido demonizada pela esquerda – por parte dela, pelo menos – e não pelo conservadorismo de direita de sempre”. Esta frase está num artigo publicado pelo cientista político Marcos Nobre, em 03/06/2023, na Folha de S. Paulo.

O enunciado captura uma parte importante das contradições que envolvem as enormes manifestações populares que abalaram as grandes cidades, há uma década. Diz respeito à ideia de que a origem da onda ultraconservadora que tomou conta do País, anos depois, tem naqueles acontecimentos sua origem.

Teria sido o momento em que se pôs a chocar o "ovo da serpente" do fascismo. “Ovo da serpente, diz Nobre, tornou-se a senha para quase todas as desgraças dos últimos dez anos”. Principalmente, o golpe do impeachment e a eleição de Bolsonaro.

Segundo os defensores dessa tese, os responsáveis seriam setores da própria esquerda e dos movimentos sociais, mesmo que involuntariamente. Como diz Nobre, pouco importa que todas as evidências mostrem que as forças da direita eram absolutamente minoritárias nas ruas naquele momento.

Muito se debateu e escreveu sobre Junho, mas qualquer consenso mais amplo está distante. Até porque estamos falando de eventos historicamente recentes e ainda sob o forte efeito de uma ofensiva fascista que está longe de ser derrotada.

Um dos livros que tratou do tema de maneira ágil, bem documentada e precisa é “Fascismo Brasileiro: e o Brasil gerou o seu ovo da serpente”, de Rudá Ricci. Passaremos a comentá-lo nas próximas pílulas para tentar deixar mais claro onde, afinal, estavam depositados os ovos amaldiçoados.

Leia também: Junho de 2013: oportunidade pedagógica desperdiçada

2 comentários:

  1. Acho de uma desfaçatez sem tamanho essa afirmação de que as manifestações de Junho de 2013 tenham gerado a ascensão da direita e da extrema-direita. Só essa parcela de visão estreita e envergonhada (difícil assumirem isso publicamente) acha isso. Acho que ela foi tão significativa, ampla e inovadora que não para de gerar comentários, artigos, livros etc. E estou longe de acha-la revolucionária. Agora, entender o que ela representou em todo esse processo é trabalho dos mais interessantes. Já ouvi falar desse livro, mas parece que não faltam são obras que nem deveriam levar em consideração essa afirmação farsesca, e procurar entender mesmo o que foi esse processo.

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    1. Caro irmão camarada, você anda por fora das redes petistas. Tem muita gente que faz essa leitura de que a culpa de tudo é de 2013. Tem até um livro publicado pela Expressão Popular de um tal de Korybko, aliado de Putin, que faz sucesso junto a muitos petistas defendendo essa ideia estapafúrdia. Então, tem mais é que combater porque se acontecer algo parecido novamente, vão novamente tratar na base da repressão.

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