Em seu livro “The People's Republic of Walmart”, Leigh Phillips e Michael Rozworski lembram que os neoliberais consideram qualquer tentativa de planejamento estatal da economia como uma forma de intervenção completamente ineficiente.
Mas, dizem os autores, o capitalismo também tem algo semelhante a um sistema de planejamento econômico centralizado. É o sistema financeiro. Phillips e Rozworski citam as palavras do economista J. W. Mason:
Os excedentes econômicos são alocados pelos bancos e outras instituições financeiras, cujas atividades são coordenadas por seus controladores, não pelos mercados… Os bancos são os equivalentes privados do planejamento central da era soviética. Suas decisões sobre empréstimos determinam quais novos projetos receberão uma parte dos recursos da sociedade.
Os bancos decidem, por exemplo, sobre empréstimos para a construção de uma nova fábrica, financiamentos imobiliários ou empréstimos estudantis. Além, claro, de estabelecer as condições em que esses débitos serão quitados. Cada empréstimo é uma abstração que mascara algo concreto como ocupações para trabalhadores, moradias para a população ou cursos de graduação.
E adivinhem o que está no centro de qualquer sistema financeiro contemporâneo? O Banco Central, o banco dos banqueiros. A ironia aqui é que se trata de uma agência governamental que só presta contas ao mercado, não recebe um voto popular, mas intervém pesadamente na economia. Quanto a isso, os discursos da elite contra intervenções estatais emudecem.
É um sistema em grande escala, tecnocrático e sistêmico. Mas não tem nada de conspiratório. Seu domínio decorre da implacável lógica capitalista. Mas, claro, qualquer ameaça a suas determinações poderá enfrentar a truculência repressiva do Estado. Outra intervenção estatal muito bem recebida pela classe dominante.
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