Em dezembro de 1917, Gramsci publicou um artigo chamado “A revolução contra o Capital”. O “Capital” de que fala o título era a famosa obra de Marx. O revolucionário italiano considerava a façanha bolchevique uma negação das conclusões simplistas deduzidas das elaborações de Marx.
Segundo tais conclusões, revoluções socialistas somente seriam possíveis em nações altamente industrializadas, como Inglaterra, França, Alemanha. Países “atrasados”, como a Rússia, teriam que superar algumas etapas. Primeiro, industrialização e democracia, a cargo da burguesia. Depois, socialismo e liberdade, conquistados pelos trabalhadores.
Marx nunca disse que a revolução só seria possível em países em que o capitalismo alcançasse seu auge. O mais importante não é o nível de desenvolvimento do capitalismo, mas seu caráter contraditório. Tanto é assim que Marx achava mais provável acontecer uma revolução na Alemanha, cujo desenvolvimento industrial era bem menor que o da Inglaterra, mas que apresentava contradições mais radicais entre o que o capitalismo prometia e aquilo que entregava.
A partir desse entendimento, Lênin criou a “teoria do elo mais fraco da cadeia imperialista”, segundo a qual o capitalismo é uma totalidade mundial cuja integridade pode ser abalada pelo rompimento de seus elementos mais frágeis. Na época, a Rússia seria um desses elos fracos.
Essa dinâmica do funcionamento capitalista escapava a muitos marxistas dos países da Europa ocidental. Por eles, não apenas a revolução russa não teria ocorrido, como qualquer outra seria adiada indefinidamente. Aliás, foi o que aconteceu.
A mesma dialética explica tanto a ousadia da vanguarda de um país “atrasado” como a tacanhez de sua equivalente nos países “avançados”. É a dialética das revoluções.
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