Doses maiores

22 de setembro de 2012

Poesia, uma droga subversiva

“Neonomicon” é a mais recente história em quadrinhos de Alan Moore. Estamos falando do genial responsável por Do Inferno, Watchmen, V de Vingança e Liga Extraordinária, entre outras maravilhas. O roteirista inglês juntou-se ao desenhista Jacen Burrows para criar uma história inspirada na obra de H.P. Lovecraft.

O mais interessante da trama é uma droga chamada Aklo. Na verdade, não é uma substância. Ela não tem existência material. Seu efeito alucinógeno é produto das palavras de uma língua desconhecida. Ao serem sussurradas no ouvido do usuário, provocam efeitos entorpecentes.

A ideia não é tão absurda assim. Por exemplo, imagine uma sociedade em que as obras de poesia tenham desaparecido das livrarias. A literatura se limitaria a especialidades técnicas e conformismo terapêutico. Num mundo assim as sensibilidades estéticas estariam condenadas à atrofia.

No entanto, poemas continuariam a ser produzidos em porões e garagens. E à medida que saíssem do subsolo e chegassem a ouvidos desacostumados causariam os mais loucos delírios.  Alguns versos bastariam para provocar sonhos alucinantes.

Os donos do poder certamente temeriam os efeitos de algo assim. Os responsáveis por sua produção seriam perseguidos como sintetizadores de uma droga poderosa.  Traficantes de palavras mágicas.

Uma sociedade que inviabiliza o fazer poético seria muito triste. Infelizmente, não é algo tão improvável. Mas restaria a esperança de que sua produção clandestina se desenvolvesse o suficiente para se tornar um poderoso entorpecente subversivo. Algo que poderia colocar tudo de pernas para o ar.

Se isso não acontecesse estaria provado. A humanidade já não valeria a pena.

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