Bestialidade
é uma palavra suave para o que aconteceu na Índia, recentemente. Em 18/12,
cinco homens estupraram uma jovem num ônibus. Seria só mais um caso, não
tivesse provocado um grande protesto popular por punições severas, em Nova Déli.
A
secretária geral da Associação Progressista Pan-Índia de Mulheres, Kavita
Krishnam, escreveu o artigo “Temos que defender o direito das mulheres sem medo!”.
Ela revela que os casos de estupro no país aumentaram 791% de 1971 a 2010. Mas
o número de condenados baixou de 41% para 27% no mesmo período.
As
vítimas são sempre consideradas culpadas pelas autoridades. É muito comum
exigir que as mulheres demonstrem que não “provocaram” seu próprio estupro. Governo,
polícia e grande mídia tentam responsabilizar trabalhadores imigrantes pelos
crimes. Mas Kavita diz que 90% dos casos de estupro são cometidos por pais,
irmãos, tios e vizinhos da vítima.
Tudo
indica que a jovem do ônibus não foi estuprada por conhecidos. Mas a tolerância
em relação à violação sexual no ambiente doméstico banaliza esse tipo de
selvageria.
Por
outro lado, Kavita condena propostas como a castração química dos culpados. Elas
se baseiam na ideia de que o estupro é motivado por desejo sexual. Não é. “O estupro
é motivado pelo ódio às mulheres, não pelo desejo por elas”.
A
violência sexual contra mulheres é uma regra maldita e antiga em quase todas as
sociedades. Enquanto não for extinta, permaneceremos na pré-história mais
tenebrosa.
Leia também: Uma
sugestão para Tarantino
Assim, jamais iria fazer apologia ao estupro ou coisa do tipo. Mas não dá pra generalizar dizendo que não envolve desejo. Você assim despreza transtornos mentais, relacionamentos envolvendo parafilia, etc. A mente humana é muito complexa e essa complexidade, meio que já quebra a coerência do título do texto. Mas entendo perfeitamente a mensagem que você quis passar, e isso realmente tem muita influência, só não dá pra colocar como regra geral! Há-braços!
ResponderExcluirDesculpe, Valter, mas discordo completamente. O desejo a que o texto se refere é o do senso comum. Não é entendido como transtorno ou impulso. Não é reconhecido como patologia. É aquele que justifica a violação por uma pretensa postura de sedução da vítima. Que aceita o crime como exagero. Na verdade, é o contrário do desejo. É o ódio, este sim, transtornado e compulsivo. Concordo que seja tratado como patologia, não como resultado da "liberação excessiva dos costumes" ou coisa assim.
ExcluirValeu pelo comentário. Abraço
Apesar de já ter passado meses q leio após a publicação do texto, sempre é válida a sua leitura.
ExcluirSobre o estupro, é sempre bom salientar q o mesmo se caracteriza pela relaçaõ sexual forçada, ou seja, sem consentimento algum da vítima, e tantas vezes em q o infrator dá ouvidos moucos aos"nãos" e mesmo, em tatos casos, a pedidos de socorro q permanecem calados na mordaça forçada.
Entendo você, Valter, em entender q para a realização de um ato sexual, mesmo sem consentimento, tenha q haver desejo, mas ainda assim vejo não seja assim simples. Até pq não existe essa história de q a vítima vá provocar no infrator o "desejo de estuprar", pois nunca ouvi falar de um desejo de ser estuprada.
A associação entre o ódio misógino e o estupro se confirma no uso frequente do estupro como arma de guerra para a dominação (a mulher é mais frágil, daí o ataque), e a covardia constante nas desagregadas relações de gênero q ocorrem cotidianamente em tantos países do planeta.
Neste segundo caso tomemos exemplos de países como Paquistão, Bangladesh, Índia, a maioria dos países do Oriente Médio e aqueles q fazem uso de mutilações genitais femininas (MGF). Nestes países, a violência é tratada como assunto privado e os estupros ocorrem em escalas estratosféricas como forma de autoafirmação do domínio do homem no ambiente doméstico. Na Somália, os estupros são usados após "casamentos" forçados entre soldados e filhas de refugiados, q depois se dissolvem, e as vítimas são execradas, inclusive de seu convívio sociocultural e familiar (um problema cultural). São casos escandalosos de misoginia e não de doença psiquiátrica.
Estupros praticados por doentes mentais são bem mais isolados, pois não encontramos doentes mentais em cada lar ou esquina - aliás, os doentes deixam uma "assinatura" mais característica, ao menos em sua maioria. E ainda assim deve-se ter comprovação de doença q justifique, no histórico clínico.
Por isso nunca devemos colocar prioritariamente o estupro como algo com justificativa. Exceto com prova concreta em contrário, intrínseca ao praticante, o estupro não se justifica e deve ser combatido. O seu combate, dada a dominância de contextos patriarcais, é q se torna o maior desafio.