Doses maiores

17 de agosto de 2015

Há 20 anos, Florestan Fernandes já temia pelo PT

Perdemos Florestan Fernandes em agosto de 1995. O filho de empregada doméstica que foi engraxate, ajudante de alfaiate, garçom, tornou-se um cientista social respeitado mundialmente. Mas jamais esqueceu sua origem proletária.

Em 1991, auge do neoliberalismo, a esquerda marxista estava sob forte ataque. Foi organizado um Ato em Defesa do Marxismo em São Paulo, do qual Florestan participou como convidado de honra. Em um trecho de seu discurso que merece destaque, ele se mostrava preocupado com:

...partidos de esquerda que, depois de alguns anos, ficam encantados com sua posição. Deixam de ser revolucionários e trabalham pelo social-reformismo, não pela revolução. O social-reformismo significa a reprodução da ordem existente. É um processo reacionário pelo qual a burguesia cede parcelas de riqueza, de cultura e de poder em troca de obediência, subalternização e aumento da exploração.

Eleito deputado federal duas vezes pelo PT, Florestan dizia que a experiência não foi nada agradável, mas serviu para mostrar-lhe como funcionavam as entranhas da dominação burguesa.

Ao mesmo tempo, em seu livro “Democracia e desenvolvimento”, de 1994, ele se mostrava preocupado com os rumos de seu partido:

Quanto ao PT, existem dentro dele várias tendências e a sua riqueza reside na confiança que conseguiu despertar nas massas trabalhadoras – primeiro em algumas cidades e, em seguida, numa extensão mais ampla da sociedade brasileira, inclusive no campo. Agora, se o PT ficar numa posição não socialista, não fará sequer uma revolução dentro da ordem, será apenas instrumental para essa modernização dirigida a partir de fora e de cima!

Nem todos os que têm raízes nas lutas proletárias foram fiéis a elas como Florestan.

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