Doses maiores

18 de maio de 2022

A resistência indígena desafia também a velha esquerda

Voltamos a falar do jornalista e escritor uruguaio Raúl Zibechi. Desta vez, trata-se de recente entrevista em que ele anuncia seu último livro: “Mundos otros y pueblos en movimiento. Debates sobre anti-colonialismo y transición en América Latina”.

No depoimento, Zibechi faz várias afirmações interessantes. Alerta, por exemplo, para a existência de dezenas de povos que estão percorrendo “caminhos de autonomia e autogestão”. Segundo ele, no norte do Peru, foram formados dois Governos Territoriais Autônomos, da nação wampis e da nação awajún. “São mais de 100 mil habitantes que optaram pelo autogoverno para frear a pilhagem da floresta”.

No Brasil, continua Zibechi, são doze povos amazônicos demarcando seus territórios frente à ofensiva dos extrativismos e à conivência do Estado. “Sendo 1% da população, os indígenas são a ponta de lança na resistência a Bolsonaro”, diz.

Zibechi acredita que tais movimentos de resistência passam quase despercebidos pelos que “vieram do marxismo”. Afinal, diz, “seguimos apegados à ideia de revolução centrada na conquista do poder estatal, na construção de partidos e organizações hierárquicas, no planejamento dos passos a serem dados (estratégia e tática) por um grupo de homens brancos ilustrados, na separação da ética da política para priorizar os fins acima dos meios, a ação pública acima do crescimento interior...”

Desse modo, afirma, acabamos por nos colocar “em uma posição de superioridade moral que é terrível, porque nos transforma em um ser apegado a supostas verdades eternas. Esse sentimento é tão forte, traz tanta segurança, que não é mais necessário compreender o mundo, e essa atitude acaba nos afastando das pessoas comuns”.

O tom é provocativo, mas justo.

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