“A vida nas cidades não permite um respiro sequer”, diz Bruno Paes Manso em seu livro “Fé e Fuzil”. Ele se refere à urbanização desenfreada da sociedade brasileira desde meados do século passado. Para as populações vindas do campo que desembarcavam nas grandes cidades, era “cada um por si, numa competição desesperada para superar a pobreza”.
Nessa situação, “ganha quem consegue mais dinheiro, não apenas para as necessidades urgentes e concretas, mas também para as conquistas materiais simbólicas que garantem respeito, status e protegem de situações violentas e humilhantes”, diz ele.
“Muitos ficam pelo caminho, pobres, com fome, sem emprego”. Não poucos encontraram no crime um atalho ilusório e fatal para a resolução de seus problemas. “Entre matadores, policiais, grupos de extermínio e criminosos, o sistema funcionava como uma máquina bem azeitada de produzir pecadores, enquanto os pentecostais tentavam faturar oferecendo um antídoto para essas almas”, afirma Manso.
O remédio fornecido pelos “crentes” converteu os mais convictos “pecadores”. Foi o caso do tenente Pereira, policial militar condenado e preso por executar suspeitos. Segundo ele, sua conversão para uma vida livre da dominação demoníaca aconteceu graças a um manual de instruções chamado Bíblia. “Se você não ler o manual, não seguir o manual, a sua tendência é ser destruído”, assegura.
Nada disso seria problema se não servisse para ocultar o que realmente está por trás do massacre cotidiano da população pobre e explorada das grandes cidades. São os poderes entranhados na materialidade da máquina de exploração e opressão do capitalismo contemporâneo. Poderes que podem até ser diabólicos, mas não têm nada de sobrenaturais.
Leia também: Na periferia do Rio, Faixa de Gaza e Complexo de Israel
Barrabás. Gostei do texto.
ResponderExcluirValeu
ResponderExcluirTenho que pedir desculpas por deixar vários comentários sem resposta. É que há semanas pararam de chegar os avisos sobre comentários por e-mail e só agora notei.
ResponderExcluir