Doses maiores

9 de janeiro de 2024

Distopia capitalista: do gemido ao estrondo

Distopia vem do grego e pode ser traduzida como um lugar ruim, mas imaginário. Há décadas, tornou-se tema favorito de filmes, peças, séries, livros e quadrinhos. Geralmente, ambientados em um cenário pré ou pós-apocalíptico.

Elementos clássicos dessas tramas ficcionais são enorme repressão estatal, robôs e dispositivos eletrônicos descontrolados, vigilância e controle cibernéticos da vida social, multidões de miseráveis, hordas de criminosos, a sociedade dominada pela lei do mais forte, pandemias, hecatombes naturais, crises climáticas, extinções em massa, insanidade mental generalizada, minúsculas elites ricas, poderosas e fortemente protegidas.

A questão é que esse lugar ruim já deixou de ser imaginário há muito tempo. É só olhar em volta: caos violento nas cidades, desemprego e precarização, ilhas de prosperidade em oceanos de miséria, truculência policial contra pobres, facções e milícias criminosas presentes tanto no contexto urbano, como rural. Tudo isso promovido por uma elite cada vez menor e mais poderosa.

São famosos os versos de T.S. Eliot, que afirmam: “É assim que o mundo acaba.\ Sem estrondo, num gemido.” Ou seja, diferente do que vemos nos filmes ou lemos nos livros, não há uma grande e definitiva hecatombe. Só o ruído de fundo do capitalismo funcionando, enquanto destrói grande parte da humanidade.

Mas o poeta estadunidense era branco e viveu no século 20. Bem antes disso, a distopia já era o cotidiano de grande parte da população não europeia ou anglo-saxã. Para muitos dos povos não brancos, o apocalipse das crenças religiosas da colonização branca chegou para ficar. E é com eles que temos que aprender a resistir e lutar. Respondendo com estrondo, não com gemidos.

Leia também: Sobrevivencialismo e bunkerização

4 comentários:

  1. https://www.estantevirtual.com.br/seboleresaber/richard-morgan-carbono-alterado-4306424859?show_suggestion=0

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  2. Recomendo intensamente este livro magistral. Eu leio pouco atualmente e menos ainda distopia, mas esse superou as expectativas. Colocar almas de padres em panteras, a se digladiar em ringue, foi insanamente genial. A pedofilia era a tara mais irrelevante no livro. Rentista ocioso e eterno pode qualquer perversão. As megas corporações colonizando galaxias, a ONU (esse gatilho conspiracionista) tentando controlar as corporações... tem tudo lá. E tem uma amostra pequena dessa saga no grande lixão da Netflix (de onde eu parti).

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  3. Tenho que pedir desculpas por deixar vários comentários sem resposta. É que há semanas pararam de chegar os avisos sobre comentários por e-mail e só agora notei.

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