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27 de junho de 2024

Intelecto geral x trabalhador coletivo na obra de Marx

Os chamados “Grundrisse” são uma espécie de rascunho de “O Capital”, de Karl Marx. Um de seus trechos que vem sendo muito citado ultimamente se refere ao conceito de “intelecto geral”:

O desenvolvimento do capital fixo indica até que ponto o conhecimento social geral se tornou uma força direta de produção, e até que ponto, portanto, as condições do próprio processo da vida social ficaram sob o controle do intelecto geral e foram transformadas de acordo com isso.

Muitos enxergam nessa passagem uma antecipação de inovações tecnológicas atuais como a automação produtiva e a inteligência artificial.

O problema é que o conceito de “intelecto geral” remete a produção material a um plano abstrato que secundariza o papel fundamental do trabalho humano na estrutura produtiva.

Seria por isso que em “O Capital”, Marx tenha substituído a figura abstrata do “intelecto geral” pelo conceito mais concreto do “trabalhador geral”. Entendendo este último como sinônimo de cooperação ampliada do trabalho.

Com a nova formulação, o trabalhador coletivo possui todas as qualidades necessárias à produção em um grau de excelência uniforme e utiliza-as empregando todos os seus órgãos, individualizados em determinados trabalhadores ou grupos deles, no desempenho de suas funções.

O que a figura do trabalhador geral antecipa é o surgimento da era da cibernética e das suas experiências de auto-organização. Para além disso, mostra como esses desenvolvimentos tecnológicos podem contribuir para a construção de uma sociedade radicalmente justa, desde que em um contexto de total socialização dos meios de produção.

As considerações acima encerram os comentários sobre o excelente livro “O Olho do Mestre”, de Matteo Pasquinelli.

Leia também: A automação da vida automatizada

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