O vereador do PSOL mais votado no Rio de Janeiro foi Rick Azevedo, defendendo redução da jornada de trabalho. Ótimo. Mas ele também declarou que a CLT é um regime de escravidão.
Muitos de nós consideram esse raciocínio extremamente contraditório. Mas desde que o marxismo surgiu, uns 170 anos atrás, temos elementos suficientes para saber que, muitas vezes, a realidade que é contraditória.
E se isso não bastasse, ainda é possível contar com a ajuda da obra que Antônio Gramsci iniciou há mais de 100 anos. Segundo o revolucionário italiano, a ideologia dominante é formada por uma maçaroca de concepções de mundo, misturando religião, filosofia, valores tradicionais e modernos, crenças e preconceitos etc. Mas nem por isso, ela é imutável ou monolítica, sofrendo metamorfoses que se adaptam às necessidades da luta de classes.
Carteira assinada, empreendedorismo liberal, teologia da prosperidade, livre comércio, imprensa livre, conservadorismo de costumes, autoritarismo, fundamentalismo religioso, estado mínimo, corporativismo sindical...
Todos esses valores hegemônicos conflitantes e até opostos entre si convivem bem porque correspondem às contradições da própria realidade. E quando os choques se tornam agudos a ponto de ameaçar a ordem dominante entra em cena o elemento de coerência nesse aparente caos: a dominação burguesa e seu aparato de repressão.
Sempre que ignora esse elemento de coerência, a esquerda acaba culpando ou o povo ou a burguesia. Culpar o primeiro é abrir mão da disputa política e contra-hegemônica. Culpar a segunda, é pedir ao inimigo para pegar leve. Ambas as atitudes implicam abdicar da verdadeira transformação social.
O que fazer, então? Fica para a próxima pílula
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Boa. Gostei
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