Doses maiores

4 de fevereiro de 2025

O agronegócio e o ar engarrafado

Destaque para uma entrevista publicada na mais recente edição da revista Poli, da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio.

O entrevistado é o epidemiologista evolucionário estadunidense Rob Wallace, integrante do Corpo de Pesquisa em Economia Rural e Agroecologia dos Estados Unidos, que estuda alternativas ao atual sistema agroalimentar.

São várias informações interessantes e importantes, mas no trecho abaixo, Wallace afirma:

...no que diz respeito aos agrotóxicos, o agronegócio vê a natureza como um competidor econômico, que deve ser derrotado. Não é só “vamos usar a natureza como um recurso”. Porque a natureza, se permitida, pode fornecer serviços ecossistêmicos gratuitamente. Você pode obter um solo saudável, pode fazer com que morcegos e pássaros se alimentem de pragas. Ela fornece o sol, a água se for bem cuidada. Mas se você é uma empresa, você quer que seu agricultor não seja capaz de ter um solo rico para o qual ele não precisa de fertilizantes. Por que ter morcegos e pássaros se alimentando de pragas ou ter culturas- armadilha que podem atrair essas pragas para longe de sua safra comercial, se você pode usar um agrotóxico? Ver a natureza como concorrente possibilita que você possa forçar o agricultor a pagar pelo que antes eram serviços ecossistêmicos gratuitos. Isso é chamado de mercadoria fictícia. Você transformou algo que antes estava disponível gratuitamente em uma mercadoria. É a mesma coisa com a água. De repente, você está comprando água engarrafada porque não pode mais beber água limpa. Em que ponto vamos partir para o ar engarrafado?

Tem muito mais na entrevista, que merece ser lida na íntegra.

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