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12 de fevereiro de 2025

Os comunismos originários de nossos dias

“A história da humanidade é a história das lutas de classes”, dizia o "Manifesto do Comunista", de Marx e Engels, publicado em 1848. Mas vários anos depois, seus autores tomaram contato com evidências cientificas de antigas sociedades em que a divisão de classes não teria ocorrido. Era o chamado “comunismo primitivo”, conceito que alguns preferem traduzir como “comunismo originário”.

Desse modo, o comunismo que os socialistas tentavam construir como projeto de futuro encontrava precedentes positivos num passado longínquo. Ao mesmo tempo, já nos tempos de Marx e Engels, a Comuna de Paris surgia como possibilidade concreta de uma organização social radicalmente democrática e igualitária. Uma experiência que permaneceu como referência até que veio a Revolução Russa, cujos líderes também haviam se inspirado nos revoltosos parisienses. A partir de então, a União Soviética passou a servir como modelo de sociedade socialista em construção.

Ocorre que a contrarrevolução stalinista logo substituiu as possibilidades emancipatórias da Revolução Russa pelo objetivo de construir uma superpotência capaz de disputar o jogo imperialista. Derrotada, a União Soviética poderia ter dado lugar à China como novo paradigma se esta não tivesse escolhido integrar-se à produção capitalista para aperfeiçoá-la. Revoluções como a cubana e as africanas jamais tiveram condições de se colocar como alternativas viáveis.

Assim, os socialistas entraram no século 21, aparentemente, desprovidos de referenciais concretos de sociedades igualitárias. Mas só aparentemente. Atualmente, existem e resistem muitas sociedades comunais igualitárias no mundo. Muito especialmente, as indígenas, repletas de elementos capazes de inspirar modos de viver plenamente humanos. Os comunismos originários podem apontar caminhos para fora dos becos sem saída do comunismo europeu.

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