Em 1927, um manifesto chamado “Por uma sociedade de proteção às máquinas” foi publicado por Fedele Azari, pintor e aviador italiano. Integrante do futurismo, movimento artístico surgido na Itália no início do século passado, Azari cultuava as máquinas a ponto de defender a criação de uma associação em sua defesa, inspirada nas associações protetoras dos animais.
Entre os “delitos mais comuns” denunciados por Azari, estava, por exemplo, “acelerar exagerada e repetidamente, sem necessidade, um motor”, comparando esse comportamento ao ato de “chicotear um cavalo”.
Daí a urgente necessidade de agir com “o propósito de proteger e fazer respeitar a vida e o ritmo das máquinas e especialmente dos motores, que dentre as máquinas são os mais sociáveis”, diz o manifesto.
Mas Azari também antecipou alguns desenvolvimentos tecnológicos que na época estavam apenas iniciando. “Temos máquinas falantes”, dizia ele. “Máquinas que raciocinam”, “cérebros de aço”. Além disso, continua, “a telemecânica nos permite dirigir ou fazer voar, sem piloto, automóveis e aviões”. Assim, profetiza o autor, “no futuro todos estes mecanismos serão acoplados e combinados e criar-se-ão máquinas que, após terem recebido instruções verbais, irão executar determinados trabalhos com a máxima precisão e com constância louvável”.
Os futuristas eram grandes entusiastas do fascismo, mas não há evidência desse tipo de simpatia por parte de Azari. De qualquer maneira, tanto apreço pelas máquinas demonstrava uma submissão patológica ao processo de combustão que viria a ameaçar grande parte da vida no planeta um século depois. E impossibilitou que o autor do manifesto compreendesse que o capitalismo fóssil é acima de tudo um exterminador de futuros.
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