Em 15/02, o caderno “Prosa” do
Globo destacou obras recentes sobre o golpe de 64. Elio Gaspari, Daniel Aarão
Reis e Antonio Villa estão entre os autores lembrados.
Alguns deles defendem interpretações
perigosas para o golpe. Dizem que a intervenção militar teria impedido a
instalação de uma ditadura de esquerda. Mas todas as evidências mostram que
Jango e os comunistas respeitavam a legalidade como coisa sagrada. Já os militares,
não hesitaram em atropelar leis e esmagar liberdades.
Mas também há detalhes
importantes sendo revelados. Aarão Reis lembra, por exemplo, que Ulysses
Guimarães foi um dos líderes da Marcha da Família com Deus pela Liberdade.
Também afirma que D. Paulo Evaristo Arns apoiou a movimentação das tropas golpistas.
E que Juscelino Kubitschek teria aprovado o golpe “com reservas”.
Tudo isso pode ajudar a
entender a natureza do regime político sob o qual vivemos. Ele é fruto de uma
“transição democrática” feita sob o controle de homens de confiança da
ditadura. Entre eles, Sarney e muitas outras lideranças que permanecem gozando
de amplas liberdades e invejável bem estar.
Por outro lado, o aparato de
repressão que a ditadura aperfeiçoou continua intacto. Trata com enorme
violência as manifestações populares e o cotidiano dos mais pobres. Mostra que
os efeitos do golpe permanecem não apenas na arena política. O aparelho policial
militarizado age com uma liberdade que é tolerada ou incentivada por seus
chefes civis.
Se olharmos para os cantos
escuros da democracia em que vivemos, veremos que aumenta de tamanho a ameaçadora
sombra da ditadura. Entre os que colaboram para seu avanço estão alguns dos que
foram suas vítimas.
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