Em 08/11, o Portal Outras Palavras publicou entrevista
com a socióloga estadunidense Arlie Russell Hochschild.
Ela é autora do livro “Strangers in their Own Land: Anger
and Mourning on the American Right’ (“Estrangeiros em sua própria terra. Raiva
e luto na direita americana”). A obra surgiu de quatro anos de convivência com
moradores brancos e pobres no interior da Luisiana. Gente que muito
provavelmente votou em Trump.
Para esses segmentos sociais, diz a socióloga, realizar o
“sonho americano” da prosperidade compara-se à espera em uma longa fila que não
só teria parado de andar, como estaria sendo cortada por “fura-filas”. Mais
precisamente, pelos beneficiários de políticas afirmativas, como negros,
indígenas, hispânicos...
É assim que as razões econômicas pelas quais a fila não
anda são ignoradas em nome do conservadorismo mais rasteiro. É essa percepção
distorcida pela ideologia dominante que reina nos milhares de comunidades
americanas como a estudada por Arlie.
O outro lado desse acanhamento ideológico é o estreito
funil do sistema político americano. Se os brancos pobres acreditam que a fila
da prosperidade vem sendo retardada por pretensos favorecimentos a “minorias”,
estas últimas são desestimuladas ou impedidas de entrar nas filas de votação.
O processo eleitoral americano é tão habilmente
controlado pela minoria branca e rica que a impossibilidade de os mais pobres serem
minimamente representados aparece como uma questão a ser resolvida entre eles mesmos.
Enquanto explorados e oprimidos, brancos ou não, brigam raivosamente
entre si por um lugar numa fila paralisada, o grande capital troca de gerentes
sem maiores problemas.
E ainda dizem que é o Brasil que não é para amadores.
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