“Não Verás País Nenhum” é um livro que
Ignácio de Loyola Brandão lançou em 1981. Uma ficção científica catastrofista que
se passa no Brasil do começo do século 21.
O tom geral é pessimista e, muitas
vezes, profético. As tendências já estavam lá, nos anos 1980, mas a obra imagina
seu agravamento. Por exemplo:
...chegou o Tempo Intolerável. Não
dava mais para se expor ao sol. Você saía à rua, em alguns segundos tinha o
rosto depilado, a pele descascava, a queimadura retorcia. A luz lambia como
raio laser.
Não estamos muito longe de sofrer esse
tipo de ameaça diante do avanço do aquecimento global. Além disso, a floresta
amazônica transformou-se em uma nova “atração turística”. A América do Sul
ganhou seu próprio Saara.
Há também os “civiltares”. Uma milícia
“estranha e misteriosa” criada pelo governo, com total liberdade para reprimir.
Lembra alguma coisa?
O livro cita ainda era da “Grande
Locupletação, quando o país foi dividido, retalhado, entregue, vendido,
explorado”. Mas esta parece ter sido uma fase de nossa história que jamais
terminou.
Outro elemento que chama a atenção são
os “Campos de Descarregamento”. Neles, “bonecos de plástico, espuma ou borracha
factícia pendem de travessões. O sujeito tem o direito de socar, xingar,
insultar, gritar, cuspir, fazer xixi sobre os bonecos”.
Essas práticas “aliviam tensões
reprimidas, atenuam o estresse, diminuem o nervosismo, combatem dor de cabeça,
fadiga, relaxam...”, explica o narrador.
Mas quais seriam os Campos de
Descarregamento de nossos tempos? Que tal as “redes sociais”? É nela que escolhemos os "bonecos" sobre os quais podemos despejar todo o nosso ódio sem experimentar alívio
algum.
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cerebrais
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