Doses maiores

9 de novembro de 2018

Rir pra não pensar

Em coluna publicada em 12/02/2017 na revista Época, Helio Gurovitz escreveu que o mundo da “pós-verdade” e “da anestesia intelectual” das redes sociais lembra menos "1984", de George Orwell, do que “Admirável mundo novo”, de Aldous Huxley.

A ideia vem do livro “Nos divertindo até morrer”, escrito em 1985 pelo teórico da comunicação estadunidense Neil Postman:

Na visão de Huxley, não é necessário nenhum Grande Irmão para despojar a população de autonomia, maturidade ou história”, escreveu Postman. “Ela acabaria amando sua opressão, adorando as tecnologias que destroem sua capacidade de pensar. Orwell temia aqueles que proibiriam os livros. Huxley temia que não haveria motivo para proibir um livro, pois não haveria ninguém que quisesse lê-los. Orwell temia aqueles que nos privariam de informação. Huxley, aqueles que nos dariam tanta que seríamos reduzidos à passividade e ao egoísmo. Orwell temia que a verdade fosse escondida de nós. Huxley, que fosse afogada num mar de irrelevância”.

(...)

"Orwell temia que nossa ruína seria causada pelo que odiamos. Huxley, pelo que amamos”, escreve Postman. Só precisa haver censura, diz ele, se os tiranos acreditam que o público sabe a diferença entre discurso sério e entretenimento.

(...)

O alvo de Postman, em seu tempo, era a televisão, que ele julgava ter imposto uma cultura fragmentada e superficial, incapaz de manter com a verdade a relação reflexiva e racional da palavra impressa. (...) Mas suas palavras foram prescientes: “O que afligia a população em Admirável mundo novo não é que estivessem rindo em vez de pensar, mas que não sabiam do que estavam rindo, nem que tinham parado de pensar”.


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4 comentários:

  1. Podemos adicionar o filme Fahrenheit 451‎, onde a função dos bombeiros é queimar livros e os filhos e parentes e amigos são induzidos dedurar quem estiver cometendo o crime de ler algum livro. Abs, meu caro amigo.

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    1. Mas, aí, tá mais pra distopia do Orwel. No caso do Huxley, não se queimam livros. O lance é encher as prateleiras (virtuais, no caso) de publicações inúteis, superficiais, fraudulentas, alienantes etc.

      Abraço, Amaral!

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  2. Interessante duas visões de futuro desesperançoso se confrontando.

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    1. E uma delas se confirmando. Ainda que não dê pra descartar a outra ou uma combinação das duas.

      Tamos bem de futuro!

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