Doses maiores

7 de novembro de 2018

A perigosa era do domínio pelas mentiras

Pawel Kuczynski
Uma eleição presidencial sem debate sobre programas de governo. Um vencedor cuja campanha baseou-se em um circuito de mentiras e distorções grosseiras que alcançava grandes parcelas da população, mas passou despercebido por muitas de suas principais vítimas. Em especial, forças de esquerda, movimentos sociais e meios acadêmicos.

A utilização eleitoral das redes virtuais em escala gigantesca para disseminar material fraudulento em doses curtas, grossas e que ocupam cada momento do dia. Declarações desencontradas, contraditórias, ditas e desditas de hora em hora. Durante a campanha, depois dela e no futuro sombrio que nos aguarda.

Uma estratégia eleitoral inspirada na tática vitoriosa de Donald Trump, que atraiu boa parte de seus votos por meio da desinformação mais grosseira. Algo que só poderia ter ocorrido pela primeira vez e com tais proporções no centro do imperialismo mundial, onde o domínio do valor de troca sobre o valor de uso é o mais extremado. Onde a circulação da informação definitivamente se rendeu à lógica da mercadoria e passou a valer por seu alcance e não por critérios como objetividade e precisão. Pelas curtidas que atrai e não pelos fatos que relata.

Tudo isso faz parte do que vem sendo chamado de era da pós-verdade. Mas, concretamente, não passa daquilo que os poderosos de todos os tempos sempre utilizaram amplamente para dominar e subjugar: mentiras, calúnias, misticismo e preconceito. A grande diferença é que tudo isso vem impregnando o tecido social de maneira inédita, normalizado por uma economia política em que a circulação especulativa de capital contagia as relações humanas de maneira avassaladora e muito perigosa.

Muito perigosa...

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