Doses maiores

12 de novembro de 2018

O povo dos macacos aguarda as ordens dos gorilas

O que é o fascismo, visto em escala internacional? É a tentativa de resolver os problemas da produção e da troca através de rajadas de metralhadoras e de tiros de pistola

O trecho acima é de Antônio Gramsci e foi escrito nos anos 1920. A citação aparece no artigo de Gilberto Calil, “Gramsci e o Fascismo: A posição da pequena burguesia”.

Depois de identificar o fascismo como um fenômeno internacional, o revolucionário italiano afirma que em todos os países seu principal elemento de apoio social é a pequena e média burguesia. E referindo-se à obra “O Livro da Selva”, de Rudyard Kipling, compara essa camada ao:

...povo dos macacos, que acredita ser superior a todos os outros povos da selva, que acredita possuir toda a inteligência, toda a intuição, todo o espírito revolucionário, toda a sabedoria de governo.

Tendo perdido importância social, diz Gramsci, esse extrato “busca de todos os modos conservar uma posição de iniciativa histórica: ela macaqueia a classe operária, também faz manifestações de rua”, às quais busca corromper com um antiparlamentarismo conservador.

Difícil não lembrar de nossa atual situação e seus desdobramentos políticos. Por isso, Calil conclui, acertadamente:

Até recentemente podíamos ressalvar que ainda não se evidenciava a constituição de uma base militante organizada nos moldes de tropa de choque e a escalada da violência que a caracteriza. Não é possível mais ter a mesma segurança, e, portanto, é urgente reconhecer o fenômeno do fascismo, os elementos que o particularizam e a exigência imediata de seu enfrentamento.

Afinal, de um lado, há o povo dos macacos, de outro, os gorilas de prontidão.

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4 comentários:

  1. Muita didática a explicação contida no primeiro parágrafo desta Pílula. Muito interessante a observação da presunção da pequena e média burguesia de se arvorar em caminhos ocupados pelas camadas mais baixas e revolucionárias. É realmente o que temos visto ultimamente e não sabia que já existiu em tempos mais remotos. Falta a Pílula na busca do entendimento de como as camadas mais baixas entram em adesão. É, sei, é pedir muito. No geral até sabemos da ideologia que prevalece ser a das classes dominantes, o que caberia entender é como ela se particularizou em um país de periferia do capital.

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    1. Realmente, é pedir muito, Marião. Mas tem uma noção meio consensual na esquerda de que as classes intermediárias costumam servir de modelo para as classes populares. São muito influentes, até porque estão numa condição que pode ser atingida pelos de baixo, enquanto as condições sociais da verdadeira burguesia estão fora de seu alcance. E isso acontece não só em relação a posições conservadoras. Acho que o PT cresceu como alternativa política também com a ajuda dos setores sociais médios de esquerda que participaram de seu projeto. Quanto às especificidades da realidade de um país da periferia do capital, aí que a coisa fica difícil de vez.

      Abraço!

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  2. Sergio, no artigo citado tem esta frase citada do Gramsci: "essa violência de modo caótico, brutal, e faz com que se ergam contra o Estado, contra o capitalismo, segmentos cada vez mais amplos da população." Entendi que o fascismo apesar de ser a alternativa extremada de defesa do capitalismo acaba por criar condições de o destruir??? Muito estranha. Você até disse que ando otimista achando que a adesão do proletariado ao protofascismo tupiniquim tem vida curta, mas não cheguei a tanto.

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    1. Bom, o artigo do Gramsci foi escrito no início dos anos 20. O fascismo ainda não havia se mostrado em toda a sua força, nem mesmo na Itália. Imagino que Gramsci previu a possibilidade de uma reação popular capaz de derrotar Mussolini. Isso não só não se confirmou, como o nazismo de Hitler fortaleceu uma onda conservadora que envolveu Espanha e Portugal e a tornou ainda mais terrível.

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