Doses maiores

17 de agosto de 2022

Junho de 2013: oportunidade pedagógica desperdiçada

Em um dos ensaios de seu livro “Do transe à vertigem”, Rodrigo Nunes pergunta: “Como chegamos aqui? De Junho de 2013 a Bolsonaro”.

Resumindo superficialmente a resposta do autor, comecemos pela obsessão que boa parte da esquerda teria por identificar quem está por trás de cada evento ou processo. Assim, diz Nunes, em vez de tramas com seus fluxos e conflitos, um só Plano abarca tudo. Em vez de golpes e contragolpes, um só Golpe que se desdobra em “golpes dentro do golpe”.

O problema, afirma ele, é que tais explicações desprezaram dois fatores fundamentais do último período. Primeiro, a crise econômica mundial iniciada em 2008 e a timidez das respostas políticas que ela recebeu. Segundo, a falência do sistema representativo, que deixou de oferecer uma representação minimamente legítima da sociedade e passou a funcionar como dispositivo de blindagem de determinados interesses econômicos. Daí decorre o terceiro elemento: a crise do “centrismo”, isto é, do consenso ideológico que reuniu direita e centro-esquerda desde os anos 1990.

Agravando esse quadro, afirma nosso autor, o PT hipotecou um enorme capital político em erros grosseiros, como a usina de Belo Monte e os megaeventos esportivos, que, além de se prestarem a grandes desvios de dinheiro público, deixaram uma herança, pior que pífia, nefasta.

E a maior oportunidade pedagógica que a política brasileira conheceu em muito tempo acabou sendo aproveitada predominantemente pela direita, que, ademais, podia contar com a simpatia da mídia e de interlocutores institucionais para impulsionar sua mensagem, conclui Nunes.

E, como sabemos, o que não se aprende pedagogicamente, dificilmente será assimilado através do caos e do pânico.

Leia também: O melancólico apego petista a seus erros

2 comentários:

  1. Para não entrar nas questões centrais que acho demandariam muita discussão, vou ficar só em uma periférica: os megaeventos esportivos. Direita, esquerda e centro sempre dão aos esportes um valor fabuloso, acho que sabemos porquê, é a tal da visibilidade que ele proporciona aos governos. Mas, ao contrário, as Olimpíadas e a Copa do Mundo só geraram críticas à esquerda e a direita do PT. Grosso modo, foi uma burrada do PT, não vejo uma vantagem para o PT e para o Brasil esses eventos.

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