Doses maiores

4 de março de 2024

Fé e fuzil: espiritualidade, religião e emancipação humana

Se quiserem ter uma ideia sobre o que eram as primeiras comunidades cristãs, observem uma seção local da Associação Internacional de Trabalhadores.

A frase acima é de Joseph-Ernest Renan, filósofo francês do século 19. Ele se refere à chamada I Internacional, que teve entre seus fundadores Marx e Engels. E é este último que cita Renan em sua obra “Contribuição para a História do Cristianismo Primitivo”, buscando mostrar o potencial emancipador das primeiras comunidades cristãs.

Rosa Luxemburgo faz o mesmo em “O Socialismo e as Igrejas”. Ela transcreve, por exemplo, a passagem bíblica de "Atos dos Apóstolos", em que a primeira comunidade de Jerusalém é descrita desse modo:

Entre eles não havia ninguém necessitado, pois todos os que possuíam terras ou casas vendiam-nas, traziam o produto da venda e depositavam-no aos pés dos Apóstolos. E a cada um era distribuído de acordo com a sua necessidade.

Essas passagens ajudam a mostrar como as contradições da luta de classes atravessam as mais variadas esferas das sociedade, em épocas e situações  mais díspares. Vivemos um momento em que a religião é fortemente utilizada por projetos autoritários. É o que evidencia o livro “A Fé e o Fuzil”, de Bruno Paes Manso, que comentamos nas últimas pílulas.

Mas Manso também mostra que há muita gente atuando em defesa da fraternidade e da justiça social nas várias denominações religiosas. Além disso, o ateísmo ou agnosticismo são igualmente capazes de alimentar fundamentalismos.

Se a espiritualidade é uma importante afirmação da condição humana, a religiosidade que justifica a exploração e a opressão nas relações sociais é sua negação.

Leia também: Fé e Fuzil: o crime como modo capitalista de funcionamento

4 comentários:

  1. A longo prazo ( a longuíssimo prazo), a espiritualidade pode prescindir da religiosidade.

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  2. Quando li o primeiro parágrafo, achei que ia terminar dizendo que até hoje a esquerda é assim. Mas vai por outro caminho, concordo com a fraternidade espiritual proposta em algumas passagens dos escritos religiosos e pouco praticada pela maioria dos religiosos. Tá bacana a Pílula.

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