Fundamentalismo religioso, guerra híbrida, dissonância cognitiva, militarismo, anarcocapitalismo, caos informativo, neofascismo. Estas são apenas algumas das chaves explicativas presentes no debate sobre a onda ultraconservadora que vem varrendo o mundo. Mas que elemento ideológico poderia dar coerência a esse caos conceitual? Um bom palpite é: o neoliberalismo.
Segundo Gramsci, a ideologia dominante reúne os elementos díspares e contraditórios que estão espalhados pelo senso comum para combiná-los de forma a justificar a ordem social. O resultado é uma massaroca que mistura religião, filosofia, valores tradicionais e modernos, crenças e preconceitos etc.
Ora, o neoliberalismo vem cumprindo perfeitamente essa função. Longe de ser apenas um modelo econômico, é uma racionalidade que penetrou toda a sociedade. Manifesta-se, por exemplo, na teologia que concebe a fé como instrumento de sucesso pessoal, no empreendedorismo como forma de ascensão social nas periferias e na organização racional da criminalidade promovida pelo PCC. Está na empresa e no sindicato. Nos governos, partidos, igrejas, mídias, universidades, ONGs. Ela impõe a mercantilização e financeirização da vida e um individualismo mergulhado na concorrência selvagem. Contaminou todas as esferas sociais, incluindo amplos setores da esquerda.
São muitas décadas de hegemonia neoliberal na Europa e Estados Unidos. Nos países dependentes, esse processo começou atrasado, mas foi sincronizado pela crise de 2008. Uma crise que o neoliberalismo criou e para a qual apresentou como solução a generalização do extremismo de direita a que estamos assistindo nos últimos anos.
Combater o neoliberalismo de forma abstrata não é suficiente para nos tirar dessa enorme encrenca. Mas se continuarmos a ignorá-lo vamos afundar ainda mais na barbárie.
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