Doses maiores

14 de março de 2024

Lênin, sempre atento à luta de classes

Mais relatos do livro “Lenin: Responding to Catastrophe, Forging Revolution“, de Paul Le Blanc.

No final de 1904, o padre ortodoxo Georgi Gapon liderava um numeroso setor dos operários russos. Como havia fortes suspeitas de que ele trabalhasse para a polícia czarista, os bolcheviques se negaram a participar do movimento.

Lênin também achava que o padre colaborava com as autoridades, mas avaliava que o movimento liderado por ele poderia levar a confrontos importantes para a conscientização da classe. Portanto, deveria ser fortalecido e disputado pelos bolcheviques.

Em janeiro de 1905, Gapon organizou uma grande marcha para pedir ao czar o atendimento de reivindicações populares. A marcha foi massacrada e o episódio serviu de estopim para a Revolução de 1905.

No mesmo ano, a direção bolchevique decidiu que não era hora de ajudar a criar sindicatos. Em vez disso, era preciso preparar uma revolta armada. Lênin discordou. Para ele, sindicatos eram organizações fundamentais para a conscientização dos trabalhadores e não havia qualquer sinal de disposição da população para um confronto armado.

Em outra ocasião, os dirigentes bolcheviques defenderam que o soviete de deputados operários adotasse integralmente o programa do partido. Novamente Lênin se opôs, afirmando que mais importante que tentar engessar os sovietes com doutrinas abstratas era conquistá-los para uma prática revolucionária.

Estes exemplos mostram a capacidade de Lênin de enxergar as oportunidades da luta de classes sem dogmatismos. Evidenciam também como as relações entre ele e seus camaradas eram conflituosas sem levarem a divisões ou paralisia. Mas isso só era possível porque o forte enraizamento do partido entre os trabalhadores servia como bússola para seus militantes.

Leia também: Lênin e o marxismo libertário

2 comentários:

  1. Gostei da frase final. Agora, vc mesmo já mostrou em outras Pílulas que o Lenin se equivocava, refazia o que pensava diante do que o movimento de massas apontava. Enfim, divergências são sempre boas, dirigentes, partidos e a massa podem também estar errados.

    ResponderExcluir
  2. Sim. Lênin era um gênio político, mas fazia parte dessa genialidade a capacidade de saber identificar logo seus erros e a quem e a que elementos da realidade recorrer para se corrigir a tempo

    ResponderExcluir