Já comentamos o estatuto que rege o funcionamento do PCC, a partir de informações do livro “A Fé e o Fuzil”, de Bruno Paes Manso. Segundo este autor, trata-se da “governança do PCC”, com a qual “procurava-se garantir a justiça e a concorrência entre os irmãos, cabendo à mão invisível do mercado ilegal empurrar seus membros para uma ação mais racional e lucrativa”.
O bandido impulsivo, com sangue nos olhos, disposto a matar ou morrer, diz Manso, tinha dado lugar a uma gama de profissionais, como doleiros e advogados capazes de comprar fazendas, postos de gasolina, bares e emissoras de rádio que podiam esquentar o capital fazendo apostas em sites esportivos, criando contas-laranja, investindo em criptomoeda, paraísos fiscais, empresas e imóveis.
Afinal, informa o autor, já que crimes e dinheiro ilegal são inevitáveis, o jeito era enquadrar os criminosos dentro de certos limites para diminuir os danos. Se o dinheiro viesse do crime, mas o ladrão seguisse uma ética mínima, evitando a violência quando possível, emprestando dinheiro e empreendendo em negócios legais, as portas do sistema se abririam para ele. Foi o que aconteceu.
Foram encontrados fortes indícios de participação do PCC em empresas de transporte alternativo em São Paulo. O mesmo acontecendo no Rio, mas, neste caso, sob controle das milícias. O objetivo principal? Criar firmas legais para lavar dinheiro e desviar recursos públicos.
Tudo isso sem preferências partidárias. A criminalidade empreendedora interage com representantes da esquerda e da direita. Afinal, ambas precisam de dinheiro para vencer eleições, conclui Manso.
Tá errado? Sim, muito. Mas o crime sempre fez parte do modo capitalista de funcionamento.
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A fé purifica
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