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6 de março de 2024

Lênin e o marxismo libertário

No ano do centenário da morte de Lênin, lembremos o pouco conhecido lado libertário de sua elaboração teórica. As informações abaixo estão no livro “Lenin: Responding to Catastrophe, Forging Revolution“, de Paul Le Blanc.

Piotr Kropotkin foi um importante anarquista russo da virada do século 19 para o 20. Tinha grandes divergências com os marxistas, principalmente em relação à manutenção do Estado após a revolução.

Mas Kropotkin elogiou Engels quando este afirmou que “o proletariado precisa do Estado, não no interesse da liberdade, mas para reprimir seus inimigos, e assim que se tornar possível falar de liberdade, o Estado como tal deixa de existir”.

Na “Crítica ao Programa de Gotha”, Marx distinguia os estágios inferiores e superiores do comunismo. No primeiro, a democracia se tornaria um hábito entre os produtores livremente associados, dispensando as leis repressivas impostas pela polícia. Em “O Estado e a Revolução”, Lênin classificou a fase inferior como “socialismo” e a superior como “comunismo”.

Somente na sociedade comunista, escreveu Lênin, quando a resistência dos capitalistas tiver desaparecido, quando não houver classes, só então o Estado romperá sua relação com os meios de produção e desaparecerá pelo esgotamento de sua função histórica.

Em 1921, último ano de sua vida, Kropotkin, expressou a esperança de que a Rússia Soviética acabaria por evoluir, tal como Lênin imaginou em seu livro, para uma “sociedade comunista sem Estado”.

Infelizmente, as convergências entre Engels, Marx, Lênin e Kropotkin não foram suficientes. Suas esperanças libertárias acabaram soterradas pela contrarrevolução stalinista. Mas a construção de uma sociedade radicalmente livre e justa continua a animar e mobilizar tanto anarquistas como comunistas.

Leia também: Um Lênin anarquista, louco, isolado

2 comentários:

  1. Pois é, divirjo. Não acredito que o fim do estado aconteceria em um único país, principalmente sendo ele a URSS. O stalinismo não foi tão poderoso como alguns pensam.

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    1. Se nem o socialismo, que ainda pressupõe a presença do Estado, é possível em um só país, imagine o comunismo. Acho que ele quis dizer que a própria Rússia Soviética se diluiria enquanto formação estatal-nacional, tornando-se parte de uma sociedade global sem a presença de estados. Uma sociedade comunista internacional.

      Se o stalinismo não foi poderoso, ao eliminar praticamente toda a vanguarda revolucionária bolchevique não sei o que mais seria. Agora, é claro que o terrível cerco imperialista ao poder dos sovietes contribuiu muito para que surgisse uma saída contrarrevolucionária dentro da URSS. E essa saída foi o stalinismo. Na verdade, a Revolução Russa foi poderosa o suficiente para derrotar seus inimigos externos. Mas não para impedir o surgimento de uma negação contrarrevolucionária em seu próprio interior, disfarçada de aprofundamento do socialismo.

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