Bastante infeliz a propaganda da Caixa Econômica Federal que mostra Machado de Assis como um senhor branco. Despreza os muitos anos de luta para tornar reconhecida a origem afro-brasileira de um de nossos maiores escritores.
A instituição foi bombardeada por protestos. Teve que retirar a campanha do ar e pedir desculpas. Mais um episódio do racismo brasileiro que muitos teimam em negar.
Mas na mesma linha desta, outra propaganda complicada da Caixa passou despercebida. Também conta o caso de uma cliente do século 19. Dessa vez, uma escrava negra que poupou dinheiro em uma conta da instituição para pagar sua alforria.
Pode parecer estranho o orgulho com que a empresa descreve o modo como se beneficiou de algo como a escravidão. Na verdade, não é. Só mostra como o capitalismo jamais tem pudores quando se trata de fazer dinheiro.
Alguns poderão dizer que a escravidão acabou graças a pressões dos capitalistas. Interessava a eles ampliar o mercado consumidor e explorar mão de obra assalariada. É verdade, mas isso vale apenas para a fase concorrencial do sistema.
Antes disso, foi a escravidão que viabilizou o surgimento do capitalismo. O trabalho servil dos negros na América financiou a Revolução Industrial na Europa. Nada poderia deixar mais evidente a podridão que está na origem do atual sistema social.
Sem querer, a campanha da Caixa denuncia a perfeita e trágica combinação entre racismo e capitalismo.
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