O antropólogo Claude
Lévi-Strauss publicou o livro “O Pensamento selvagem” em 1962. Nele o pesquisador
francês estudou povos não europeus, contestando o racismo e a ideia de que há
povos “primitivos”. Comparando estudos realizados em várias partes do mundo,
Lévi-Strauss mostrou que o mito e o rito são elementos do que ele chamou de
pensamento mítico. Uma forma de apreensão da realidade que merece tanto
respeito quanto a ciência entre nós, por exemplo.
Mas há um trecho em que
Lévi-Strauss descreve como membros da tribo dos gahuku-gama, da Nova Guiné,
aprenderam a jogar futebol. Segundo o autor, eles “jogam durante vários dias
seguidos, tantas partidas quantas forem necessárias, para que se equilibrem exatamente
as perdidas e ganhas por cada campo”. Ou seja, o objetivo era sempre o empate.
Não se trata de uma evidência
sobre uma sociedade que se recusa a ser competitiva. O registro, aí, é outro.
Segundo o antropólogo, tratava-se menos de um jogo que de um rito envolvendo a
relação com mortos e vivos. As regras do jogo foram respeitadas apenas para que
servissem aos propósitos míticos de seus praticantes. A exata explicação do fenômeno
é complicada demais para ser transcrita aqui.
O que importa é pensar que mesmo
algo tão universalizado possa ser apropriado de maneiras tão diferentes. Não apenas
por interesses políticos, poder econômico e propósitos mafiosos. Um dia,
talvez, sejamos capazes de fazer isso com muitas outras atividades. Aí, a
humanidade poderia se ver como um imenso torneio cheio de equipes, cujos jogadores
buscam vitórias, à espera das necessárias derrotas. Campeonatos cujos
resultados permitam comemorações universais.
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arquibancada, usando luvas e casaca
Esse texto é uma grande pérola e uma enorme utopia (não no sentido do "não possível" como normalmente é entendida).
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