Dizem que durante negociações entre China e União Soviética, nos anos 50, Deng Xiaoping
se encontrou com Kruschev, e este, orgulhoso de sua origem operária, teria
debochado da infância abastada do chinês. Ao que Deng teria respondido:
"Pois é, ambos acabamos traindo nossas classes".
Se o rico fazendeiro João Goulart fosse vivo e se encontrasse com Lula, um
diálogo parecido poderia acontecer. Não tanto pelo pouco que Goulart tentou realizar
e não deixaram, mas pelo que Lula jamais pensou fazer.
Afinal, o próprio ex-presidente gosta de dizer que os bancos nunca ganharam
tanto quanto durante os governos petistas. Até pouco tempo, tanta boa vontade parecia
ser suficiente para manter o setor financeiro silencioso em relação ao impeachment
de Dilma. Recentemente, porém, Roberto Setúbal, do Itaú, declarou apoio ao
afastamento da presidenta.
Outro setor extremamente favorecido pelo PT à frente do Executivo foi o
agronegócio. Mesmo assim, a bancada ruralista se manifestou favoravelmente ao
impeachment. Ao mesmo tempo, a grande líder dos latifundiários, a ministra
Katia Abreu, diz que não sai do governo.
Nesses casos, quem estaria traindo quem? Do ponto de vista dos interesses de
classe, nem Setúbal, nem Kátia. Afinal, permanecendo Dilma ou não, muito
provavelmente banqueiros, ruralistas e outros setores poderosos continuarão contando
com a confiança que não hesitam em trair quando preciso.
Aos petistas restaria citar os versos tornados famosos por Beth Carvalho: “Você
pagou com traição, a quem sempre lhe deu a mão”.
Já os governos petistas poderiam receber de seus aliados prioritários o verso
final de uma bela canção de Chico Buarque, que diz: "Te perdoo por te trair".
Leia também: O PT e a pior das desmoralizações
Engraçado, Dilma já veio pro PT depois da carta aos brasileiros, então suponho que esse negócio de traição como argumento político é meio estranho. Assim como Lula já mostrou na prática que é um conciliador, pragmático e liberal, não um comunista. Aliás ele também gosta de dizer que o legado de inclusão social dos mais de baixo é dele e dos governos petistas.
ResponderExcluirConcordo. A rigor, Lula e o PT avisaram o que iam fazer já na Carta aos Brasileiros. Então, não faz muito sentido esse papo de traição. Mas nas eleições de 2014, eles prometeram o que não podiam cumprir, dadas as escolhas que fizeram desde a nomeação de Meirelles e da Reforma da Previdência. Agora, do que eles realmente não podem se queixar é de serem traídos por quem sempre os odiou. Valeu
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