Em 21/06, completaram-se 178 anos do nascimento de
Machado de Assis. Giovanni Arceno é escritor e envia
diariamente trechos literários valiosos por e-mail. Um deles cita uma passagem do capítulo
“Borboleta Preta”, de “Memórias póstumas de Brás Cubas”. Merece bater asas por
aqui, também:
— Também por que diabo não era ela
azul? disse comigo.
E esta reflexão, — uma das mais
profundas que se tem feito, desde a invenção das borboletas, — me consolou do
malefício, e me reconciliou comigo mesmo. Deixei-me estar a contemplar o
cadáver, com alguma simpatia, confesso. Imaginei que ela saíra do mato,
almoçada e feliz. A manhã era linda. Veio por ali fora, modesta e negra,
espairecendo as suas borboletices, sob a vasta cúpula de um céu azul, que é
sempre azul, para todas as asas. Passa pela minha janela, entra e dá comigo.
Suponho que nunca teria visto um homem; não sabia, portanto, o que era o homem;
descreveu infinitas voltas em torno do meu corpo, e viu que me movia, que tinha
olhos, braços, pernas, um ar divino, uma estatura colossal. Então disse consigo:
“Este é provavelmente o inventor das borboletas.” A ideia subjugou-a,
aterrou-a; mas o medo, que é também sugestivo, insinuou-lhe que o melhor modo
de agradar ao seu criador era beijá-lo na testa, e beijou-me na testa. Quando
enxotada por mim, foi pousar na vidraça, viu dali o retrato de meu pai, e não é
impossível que descobrisse meia verdade, a saber, que estava ali o pai do
inventor das borboletas, e voou a pedir-lhe misericórdia.
Quem quiser receber preciosidades como esta, entre em
contato com giovanni@leiabrasileiros.com.br
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