Doses maiores

29 de maio de 2019

As milícias no comando

“No Rio de Janeiro a milícia não é um poder paralelo. É o Estado”, diz José Cláudio Souza Alves, em entrevista a Mariana Simões para a Agência Pública, publicada em 31/01/2019.

Autor do livro “Dos Barões ao extermínio: a história da violência na Baixada Fluminense”, o sociólogo estuda as milícias há 26 anos. Segundo Alves, elas:

São formadas pelos próprios agentes do Estado. É um matador, é um miliciano que é deputado, que é vereador. É um miliciano que é Secretário de Meio Ambiente. Sem essa conexão direta com a estrutura do Estado não haveria milícia na atuação que ela tem hoje.

Alves identifica suas origens na criação da Polícia Militar, em 1967. A partir daí, vieram os esquadrões da morte, que teriam inspirado os atuais grupos de extermínio.

A certeza da impunidade que as ligações com o Estado permitem é tamanha, afirma o entrevistado, que seus membros já chegam dizendo: “Eu sou o cara, eu sou o matador, eu tenho vínculos com fulano, beltrano e sicrano. Eu ocupo este cargo”.

E os três mandatos do PT no governo federal nem arranharam essa estrutura, lamenta Alves. Ao contrário, é triste lembrar que o partido chegou a ter um deputado miliciano na Alerj.

O resultado está aí. Hoje, a milícia é o Estado não somente no Rio de Janeiro.

Entre as principais características dessas organizações, afirma o sociólogo, estão a estrutura familiar e a vinculação a igrejas. Duas instituições cuja credibilidade é explorada com sucesso pelos grupos de extermínio.

Mas não tem Brasil acima de tudo ou Deus acima de todos. Só a milícia no comando.

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