Doses maiores

30 de maio de 2019

O gato chinês já foi um tigre

“Não importa a cor do gato, desde que ele cace o rato”. Deng Xiaoping usava esta frase para explicar o modelo que começou a implantar na China, em 1978.

Foi a partir desse ano que o país passou a adotar mecanismos de mercado para tentar responder às necessidades de sua imensa população. Até agora, a experiência tem sido um sucesso. Mas um sucesso capitalista.

É verdade que na economia chinesa ainda predomina a propriedade estatal dos principais meios de produção. Mas, atualmente, a maioria dos empregos é gerada no setor privado, também responsável pela maior parte do PIB.

O monopólio do poder continua nas mãos do Partido Comunista Chinês. Mas desde 2002, está autorizada a entrada de capitalistas em suas fileiras.

Ou seja, o tal gato de Deng tem patas, rabo, cabeça e bigodes capitalistas. De comunista, apenas o nome com que foi batizado há muitas décadas. E a cor...

Difícil acreditar, por exemplo, que a China se mantenha socialista, quando se tornou responsável por sustentar, em nível global, um sistema econômico radicalmente oposto a tudo que se possa entender por socialismo.

Mas há os que nem se importem com isso. Para estes, a sociedade chinesa teria colocado o capitalismo a serviço de seus objetivos. Se estes carregam o vermelho do socialismo ou não, pouco interessa.

O problema é que adotar esse modelo como referência exigiria uma pré-condição para a qual poucos dos defensores do capitalismo de estado chinês parecem estar preparados.

Trata-se da realização de uma revolução social anticapitalista radical, envolvendo dezenas de milhões de explorados. Em 1949, o felino que nasceu era um tigre.

Leia também: China: capitalismo, sim. Neoliberalismo, jamais

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