Doses maiores

3 de maio de 2019

O 1º de Maio e as multidões

Em 1º de Maio, um ato unificado de centrais sindicais e movimentos populares reuniu 200 mil no Vale do Anhangabaú, São Paulo. Meses antes, no mesmo local, outra multidão reuniu cerca de 15 mil pessoas na fila do Mutirão do Emprego, promovido por órgãos públicos.

Mais grave que o número de desempregados é a distância entre as duas multidões. E ainda pior que isso, é o divórcio entre os que estão empregados e suas entidades. Os sindicatos sempre tiveram muita dificuldade em organizar os desempregados. Há muito tempo, também sofrem para organizar suas próprias bases.

Não se trata apenas do fim da CLT ou do corte das contribuições sindicais recentemente aprovados.

Depois da primeira reestruturação produtiva nos anos 1990, veio, já neste século, a uberização da força de trabalho. Não apenas pelo uso do famoso aplicativo, mas pela precarização dos vínculos trabalhistas.

Agora, são todos colaboradores, prestadores, autônomos, cooperativados, empreendedores. Na verdade, todos vítimas da velha exploração capitalista.

No mutirão de emprego, aqueles poucos milhares na fila realmente representavam os 13 milhões sem emprego no País. No 1º de Maio, aquelas centenas de milhares mal conseguiam representar as dezenas de milhões de assalariados e explorados do País.

Talvez, porque no 1º de Maio, a maioria presente ainda era muito branca e suas direções quase todas masculinas. Ou porque, há décadas, muitos dirigentes sindicais tenham se tornado empregados estáveis de suas próprias entidades.

Infelizmente, tudo indica que a política de terra arrasada contra os trabalhadores promovida por governo e patrões será vitoriosa. Tragicamente, parece que, somente assim, podemos deixar de ser multidão para nos comportarmos como classe.

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Um comentário:

  1. Bom, gostei. Me inclino a opção: "muitos dirigentes sindicais tenham se tornado empregados estáveis de suas próprias entidades". Bjs

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