Encerrando os comentários sobre o belo livro “Melancolia de esquerda”, de Enzo Traverso, segue abaixo um sumário muito pessoal e incompleto de suas conclusões finais.
O marxismo não pode ser amputado de seu princípio de esperança. Sua arte consiste em organizar o pessimismo: tirar lições do passado, reconhecer a derrota sem capitular ao inimigo, com a consciência de que recomeçar significa inevitavelmente empreender caminhos desconhecidos.
Em seu livro “Marx o intempestivo”, Daniel Bensaïd afirmou não acreditar em teleologia histórica. É melancólica essa consciência de que não há nada pré-estabelecido, que tudo é frágil e incerto, que "o inimigo continua a vencer" e que, "no cálculo das probabilidades, a barbárie não tem menos chance que o socialismo".
Ou seja, a transformação do mundo é uma aposta melancólica, nem arriscada nem sem sentido. Alimentada pela memória. Baseada na vontade, mas também na razão. Ao mesmo tempo, "hipótese estratégica e horizonte regulatório".
Nela não há conflito entre o “pathos” das lágrimas e o “logos” do discurso político, pois o afeto é inerente à prática revolucionária. Não há ação sem fundamento estratégico (ideias, projetos, reivindicações), mas também não há sem fundamento emocional (dor, desconforto, indignação, raiva, esperança, alegria, exaltação).
A melancolia de esquerda não se limita à pena das vítimas. Não vê os escravos como objetos de compaixão, mas como sujeitos rebeldes.
Melancolia e revolução andam juntas. A primeira segue a segunda como uma sombra, tornando-se discreta durante o seu surgimento, manifestando-se no final, envolvendo-a completamente após a derrota.
É pela derrota que a experiência revolucionária se transmite de geração em geração. O olhar do vencido é sempre crítico.
Leia também: Melancolia, memória e revolução
Lindo desfecho, e completaria, com muita paixão.
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