Em seu livro “Melancolia de esquerda”, Enzo Traverso também trata da relação entre os traumas das derrotas da esquerda e memória. Em especial, em uma de suas correntes mais importantes, o marxismo.
Segundo ele, a relação entre o marxismo e a memória nunca foi estudada seriamente, mas isso não significa que não exista. Como espelho de expectativas, visões e percepções do passado que há mais de um século habitaram inúmeros movimentos coletivos, o marxismo implica uma certa concepção de memória.
Em “O 18 Brumário de Luís Bonaparte”, a memória é evocada como "a tradição de todas as gerações desaparecidas" que "oprime como um pesadelo o cérebro dos vivos”. Mas a memória cultivada para o futuro anunciava as batalhas que viriam.
Apesar de todas as suas derrotas, o socialismo permaneceu um “telos”, uma meta que orientou e construiu sua própria memória. E a teleologia marxista fez da memória um elemento-chave de seu imaginário utópico.
Claro, os indivíduos não podem mudar o que aconteceu, mas eles são capazes de mudar o presente e essa transformação é capaz de "redimir" o passado. Ou seja, afirma Traverso, para salvar o passado é preciso reavivar as esperanças dos vencidos, dar nova vida às expectativas insatisfeitas das gerações que nos precederam.
O autor lembra que para Trotsky, a revolução não surge de uma tábula rasa, pois tem uma visão própria do passado. Uma espécie de “contra-memória” em oposição às interpretações oficiais da história. A revolução foi o momento em que essa visão "veio do fundo da memória" e impulsionou seus atores a "abrir uma brecha para o futuro”.
Sigamos abrindo brechas.
Continua...
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