Muitos dos trabalhadores que conheci nos galpões da Amazon faziam parte de um grupo demográfico que nos últimos anos cresceu com velocidade alarmante: americanos mais velhos, perdendo rapidamente qualidade de vida. Nos melhores dias do Império – com uma classe média forte, estabilidade no emprego e boas aposentadorias – essa situação era inimaginável.
O trecho acima é do livro "Nomadland", de Jessica Bruder, sobre trabalhadores despejados de suas casas pela crise das hipotecas de 2008. Nômades, eles passaram a circular pelo país a bordo de seus motor-home.
Formaram uma espécie de comunidade itinerante que costuma se encontrar nos locais que oferecem trabalho temporário. Muitos deles são os enormes centros de distribuição da Amazon.
A autora cita a experiência de uma dessas pessoas. Quando partiu em seu trailer sete meses antes:
...a sobrevivência financeira não era seu único objetivo. Ela também sonhava em se juntar a uma comunidade maior de pessoas. Pessoas que estavam dispostas a refazer radicalmente suas vidas em busca de realização e liberdade. Mas na Amazon, os turnos massacrantes eram exaustivos e solitários. Seus dias de folga serviam mais para recuperação do que socialização, não deixando muito tempo para se relacionar com outros nômades.
Mas a Amazon não criou tais centros especificamente para explorar esses deserdados do sonho americano. A empresa também surgiu na esteira da crise de 2008, mas como alternativa para o capital cortar radicalmente os custos com o trabalho humano utilizado no varejo comercial. A exploração desses sem-tetos motorizados foi apenas um lucrativo efeito colateral.
Na verdade, vidas humanas sempre foram tratadas como desagradáveis efeitos colaterais pelo capitalismo.
Mais na próxima parada.
Leia também: Nomadland: muitas horas e quilômetros trabalhando para a Amazon
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