Despejados de suas casas pela crise das hipotecas de 2008, muitos estadunidenses de classe média formaram comunidades nômades que circulam pelo país em trailers, buscando trabalho temporário.
Nos eventos que essas comunidades organizam, a Amazon monta quiosques de recrutamento. Vestindo camisetas da empresa, os recrutadores distribuem panfletos onde se lê "CONTRATANDO AGORA", junto com adesivos, calendários e outros brindes promocionais.
O relato acima é baseado no livro "Nomadland", de Jessica Bruder, assim como o testemunho abaixo, de um dos recrutados:
“Vocês vão fazer muito esforço físico aqui. Provavelmente, vão se agachar umas mil vezes por dia, sem exagero", avisou nosso instrutor. Alguns estagiários riram. Sentamos em longas mesas em ordem alfabética, como crianças em idade escolar. A maior parte da multidão estava acima dos 60 anos. Eu era o único com menos de 50, um dos três trabalhadores sem cabelos grisalhos. Disseram-nos que os gerentes do depósito solicitaram oitocentos trabalhadores e apareceram mais de novecentos.
O maior galpão equivale a 19 campos de futebol e tem 32 quilômetros de correias transportadoras. É um labirinto de perigos. Cabelos precisam ficar amarrados para não se prenderem nos rolamentos e os crachás têm cordões quebráveis para evitar estrangulamentos.
No verão, as temperaturas de um armazém na Pensilvânia ultrapassam os 45 graus. Os gerentes não abrem as portas por medo de roubo. Em vez disso, deixam ambulâncias prontas para retirar funcionários adoecidos pelo calor.
Nessas condições, os contratados cumprem jornadas superiores a 10 horas, com dois intervalos, de quinze e trinta minutos, para refeições. Tarefas rigidamente cronometradas por sensores completam o quadro.
Com isso, concluímos essa viagem exaustiva e revoltante.
Leia também: Nomadland: a vida humana como efeito colateral
Que coisa revoltante, chega aa requintes de crueldade.
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