Para o antropólogo Piero Leirner, pesquisador das Forças Armadas desde o início da década de 1990 e professor da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), a ascensão de Bolsonaro à presidência não foi mero acidente, mas construída dentro do alto comando militar desde 2014.
É assim que o jornalista Carlos Eduardo Vasconcellos introduz sua entrevista com Leirner, recentemente publicada no portal Último Segundo.
Trata-se da mesma tese apresentada pelo estudioso em seu livro “O Brasil no espectro de uma guerra híbrida”. Segundo ele, o papel de Bolsonaro seria “dar uma 'cara' ao governo, isto é, manter a aparência de que tudo é consequência das eleições”. Para Leirner, o presidente seria:
...um agente ideológico terceirizado para dar a sensação que isto que estamos vivendo é um governo (ou desgoverno, dependendo do ponto de vista), e não um sistema de comando, controle e informações militar.
Ou seja, por trás de Bolsonaro haveria uma espécie de Partido Militar do qual ele seria mero “testa de ferro”. A tese é bastante pertinente, mas dá a impressão de que Bolsonaro estaria sob controle de um comando superior fardado.
O problema é que o sistema político nacional ainda depende fortemente de votos. E Bolsonaro é o único nome do Partido Militar capaz de conquistá-los. Isso é suficiente para dar ao capitão grande autonomia frente aos generais, seus supostos comandantes.
O mais provável é que haja muitos problemas e contradições também no interior do Partido Militar. Por enquanto, não seria nada que viesse a causar um verdadeiro racha entre Bolsonaro e seus “correligionários”, mas pode atrapalhar bastante os planos para sua reeleição.
Tomara!
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Não sei, claro que respeito a conclusão que chegou o antropólogo, mas gostaria de saber como ele se baseou para chegar a isso. Sei que não dá para explorar isso na Pílula, mas fiquei na dúvida.
ResponderExcluirBom, aí, sugiro ler a entrevista e também tem as pílulas sobre o livro dele, que escrevi em abril
ExcluirCaríssimo Sérgio, nossa esquerda por vezes padece de um otimismo metafísico. Quando a Constituição de 88 preservou a incumbência das forças armadas para "garantir os Poderes constituídos, a lei e a ordem", redação herdada da Const. de 1967 permitiram a existência de uma espécie de poder mediador paralelo. O antropólogo Piero Leirner não está criando uma análise aleatória, mas alguns teimam em tentar enxergar democracia, quando a própria constituição estabelece um poder tutelar. Mais que um partido, as forças armadas são um partido armado autoritário e truculento. A gente é que estava distraído esse tempo todo. Abraço.
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