Época estranha, a nossa. Não
estamos sob uma ditadura política, mas certas canções da época em que os
generais mandavam parecem ter se atualizado.
É o caso “Plataforma”, samba
de João Bosco e Aldir Blanc, de 1977:
Não põe corda no meu bloco, /
não vem com teu carro-chefe, / não dá ordem ao pessoal. / não traz lema nem
divisa / que a gente não precisa / que organizem nosso carnaval. / não sou
candidato a nada, / meu negócio é madrugada / mas meu coração não se conforma.
/ o meu peito é do contra / e por isso mete bronca / nesse samba-plataforma: / por
um bloco que derrube esse coreto /
(...) que sacuda e arrebente / o cordão de isolamento.
Tudo a ver com a rebeldia que está nas ruas.
Outra música que merece nova
escuta é “Acorda Amor”, que Chico Buarque lançou sob o pseudônimo de Julinho de
Adelaide em 1974:
Acorda amor / Eu tive um
pesadelo agora / Sonhei que tinha gente lá fora / Batendo no portão, que
aflição / Era a dura, numa muito escura viatura / Minha nossa santa criatura /
Chame, chame, chame lá / Chame, chame o ladrão, chame o ladrão.
A letra ironizava a triste
situação da época. Diante da chegada da polícia da ditadura, era mais seguro
chamar o ladrão.
A música ficou no passado,
mas a violência oficial que ela denunciou continua presente. Em manifestações,
nas favelas e bairros pobres continua sendo preferível chamar os ladrões. Pelo
menos aqueles que não estiverem ocupados governando, legislando e financiando
políticos profissionais.
Leia também: O
poderoso partido dos quartéis
Não precisa ser gênio para concluir que elas são atuais porque a situação estruturalmente não mudou.
ResponderExcluirTomara algum dia sejam ouvidas como lembrança de uma época que superamos para nunca mais voltar.
Que as musas dos poetas os privem desse tipo de inspiração, então!
ExcluirAbraço!