Doses maiores

1 de outubro de 2013

A turbulenta infância da espécie humana

“Nada deve parecer impossível de mudar”, diz o poema de Bertold Brecht. O mesmo que afirma: “nada deve parecer natural”. É que uma coisa é consequência da outra.

Não é natural que haja pobres e ricos, por exemplo. Para que os primeiros existam, é preciso haver os segundos. E, quase sempre, os segundos devem sua condição à exploração dos primeiros. Mas as sociedades baseadas na exploração humana só existem há uns 10 mil anos. Sobram uns 90 mil anos de vida social sem exploração.

Mesmo hoje em dia, muitas sociedades tribais não sabem o que significa ser pobre porque não existem ricos entre eles. Também não são naturais conceitos aparentemente eternos e imutáveis como “família” e “infância”. O primeiro já nomeou formações muito diferentes ao longo da história. O segundo, tal como entendido hoje, é uma criação do século 19.

As ciências humanas nos oferecem muitas ferramentas para combater toda essa naturalização. Talvez, por isso sejam tão desprezadas. Ou só recebam apoio quando se dobram às necessidades do mercado e do poder. Quando procuram provar que a competição está em nosso DNA, a agressividade faz parte de nossa essência, o egoísmo nos define como espécie.

Naturalizar relações sociais só interessa a quem ocupa lugares de dominação nelas. Somos diferentes dos outros animais porque transformamos o meio em que vivemos, incluindo a nós mesmos. O problema é que até agora só o fizemos aos trancos e barrancos e em benefício da minoria que manda.

Precisamos parar de nos comportar como uma grande família dominada por alguns poucos patriarcas. Deixar para trás nossa turbulenta e sofrida infância. 


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