“Nada deve parecer impossível
de mudar”, diz o poema de Bertold Brecht. O mesmo que afirma: “nada deve
parecer natural”. É que uma coisa é consequência da outra.
Não é natural que haja pobres
e ricos, por exemplo. Para que os primeiros existam, é preciso haver os
segundos. E, quase sempre, os segundos devem sua condição à exploração dos
primeiros. Mas as sociedades baseadas na exploração humana só existem há uns 10
mil anos. Sobram uns 90 mil anos de vida social sem exploração.
Mesmo hoje em dia, muitas
sociedades tribais não sabem o que significa ser pobre porque não existem ricos
entre eles. Também não são naturais conceitos aparentemente eternos e imutáveis
como “família” e “infância”. O primeiro já nomeou formações muito diferentes ao
longo da história. O segundo, tal como entendido hoje, é uma criação do século
19.
As
ciências humanas nos oferecem muitas ferramentas para combater toda essa
naturalização. Talvez, por isso sejam tão desprezadas. Ou só recebam apoio
quando se dobram às necessidades do mercado e do poder. Quando procuram provar
que a competição está em nosso DNA, a agressividade faz parte de nossa
essência, o egoísmo nos define como espécie.
Naturalizar
relações sociais só interessa a quem ocupa lugares de dominação nelas. Somos
diferentes dos outros animais porque transformamos o meio em que vivemos,
incluindo a nós mesmos. O problema é que até agora só o fizemos aos trancos e
barrancos e em benefício da minoria que manda.
Precisamos
parar de nos comportar como uma grande família dominada por alguns poucos
patriarcas. Deixar para trás nossa turbulenta e sofrida infância.
Leia também: Que
animal deve nos educar?
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