Uma das primeiras cenas do
documentário “Escolarizando o mundo” mostra um quadro pintado em 1872. A imagem
exibe uma mulher branca em vestido alvo, flutuando por cima de uma planície americana.
Colonos brancos a seguem, enquanto índios e animais nativos fogem. Ela representa
o progresso. Em sua testa, a estrela do império. Em sua mão direita, um livro
escolar.
Durante o século 19, os Estados
Unidos avançaram rumo ao Oeste. Em sua marcha, internaram milhares de crianças indígenas
nas escolas das reservas. Queriam educá-las, diziam. Na verdade, estavam
destruindo seu modo de vida. À violência das armas juntava-se o massacre
cultural.
A este processo, a produção chama
de escolarização ocidental. Ela representa a imposição de uma monocultura nas
relações humanas. A enorme diversidade dos modos de ser de nossa espécie resumida
e unificada em torno dos restritos e mesquinhos valores do mercado. O mesmo
currículo aplicado por toda parte, sempre buscando formar mão de obra a ser
explorada.
Um dos entrevistados diz que a
pergunta sobre o que significa ser humano ainda é respondida por 6 mil vozes
diferentes. Correspondem às várias culturas da humanidade espalhadas pelo
planeta. Mas esta riqueza polifônica vem sendo transformada em uma cantoria de
uma nota só pelo padrão escolar imposto pela sociedade industrial.
Este processo priva humanidade
das inúmeras formas que desenvolveu para se relacionar entre si e com o
restante da natureza. Um metabolismo cuja riqueza se manifesta principalmente
nas relações com o divino. Como disse o Prêmio Nobel de Poesia de 1927, Rabindranath
Tagore, a escolarização “arranca as crianças de um mundo repleto de artesanatos
de Deus…”.
Assista ao documentário, clicando aqui
Leia também: Escolas
públicas, só para minorias disciplinadas
Artesanatos de Deus e de todos aqueles que viveram antes ou apesar da monocultura capitalista. A escola é mesmo um aparelho ideológico do Estado, mas felizmente possui brechas por onde
ResponderExcluirpodemos (devemos!) pensar e articular maneiras de reinventar nossas relações com o outro e com a natureza.
Com certeza, Neila. E muitos professores estão engajados na luta contra esse modelo ainda que façam parte dele. O desafio é fazer esse debate nas campanhas salariais e outras lutas para que não fiquemos na questão econômica e esqueçamos o debate político e ideológico.
ExcluirAbraço
Mesmo, grande desafio!
ExcluirSuas pílulas são inspiradoras! Uma honra poder digeri-las!
Abraço!