Em 25/03, reportagem de Toni
García para o jornal El País destacava: “A internet virá abaixo e viveremos
ondas de pânico”. A frase é de Dan Dennett, filósofo norte-americano, que espera
graves consequências caso ocorra uma queda total da rede mundial de computadores.
Mas Dennet não está
preocupado com a suspensão das telecomunicações, apagões de energia, caos no trânsito
e no tráfego aéreo. Ele teme que a maioria das pessoas, uma vez privadas da
internete, se veja excluída da própria vida social.
Para Dennet, relações estabelecidas
por meio da família, locais de trabalho e de moradia, associações, clubes, igrejas,
teriam se enfraquecido com a ampliação da rede virtual. E na ausência desta, já
não teriam capacidade para voltar a exercer seu papel agregador.
Há evidente exagero nesta conclusão.
Mas a crescente frouxidão do “tecido social” é um fenômeno que já vem sendo estudado
pela sociologia há algum tempo. E tem muito menos a ver com a internete do que com a
forma como o capitalismo vem se desenvolvendo.
Um dos que estudaram este fenômeno
foi o sociólogo francês Robert Castel. Ele é responsável pelo conceito de
“desfiliação social”, que procura descrever uma condição em que os indivíduos sentem
cada vez mais dificuldades para se integrar às redes de pertencimento social.
Mas esta situação estaria ligada à constituição da “sociedade salarial” a
partir do século 19.
Os marxistas diriam que é o crescente
domínio do mundo das mercadorias que vem privando de sentido as relações pessoais.
Não é a internete, mas o que o capitalismo faz dela e de todas as outras redes de
relacionamentos humanos.
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