Doses maiores

6 de agosto de 2019

O banqueiro cínico. Ou descarado, mesmo

Há quem entenda o conceito de cinismo com o significado de dissimulação maldosa. Uma espécie de hipocrisia. Mas a origem do termo que remonta à Grécia Antiga é praticamente o oposto disso.

Cinismo tem raiz na palavra grega para cão. Segundo os adeptos dessa concepção de mundo, deveríamos viver como nossos amigos caninos, sem ligar para convenções sociais.

Deveríamos ser autênticos, manifestando livremente nossas ideias e desejos. Desprezando comodidades, riqueza, prestígio. Vivendo, enfim, uma vida sem falsidades.

Vamos a um exemplo prático. O presidente do Itaú, Candido Bracher, concedeu entrevista a Josette Goulart, que a publicou na Folha em 30/07/2019.

O título do depoimento destacou o fato de que Bracher não vê como prejudiciais para a aprovação das “reformas” as “declarações polêmicas” de Bolsonaro. Mas é o trecho abaixo que deveria inspirar uma manchete em letras garrafais:

Destacou ainda que o nível elevado de desemprego, hoje na casa de 12%, permite crescimento sem impacto sobre a inflação. “Quando tem fator de produção sobrando tanto, significa que podemos crescer sem pressões inflacionários”, afirmou.

“Isso deixa a situação macroeconômica do Brasil tão boa quanto nunca vi na minha carreira”, disse. Bracher tem experiência no setor financeiro, onde atua há quase 40 anos. “Tudo isso que me faz ser otimista no curto e médio prazo”.

Seria este um bom exemplo de cinismo? Sem dúvida. Principalmente, se o entendermos em seu sentido mais ordinário, como sinônimo de descaramento, desfaçatez, desprezo pelas normas da vida em sociedade.

No caso em questão, mais do que descaramento, talvez se trate de mau-caratismo, mesmo. Aliás, bastante condizente com os terríveis tempos em que vivemos.

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