Doses maiores

7 de agosto de 2019

Algoritmos e zeros sobrantes

Yuval Harari é autor do best-seller “Sapiens”, entre outros. Em recente entrevista publicada pelo portal Repubblica, ele faz as seguintes considerações:

Hoje todos aqueles que vivem no planeta falam apenas uma língua: esta língua é a matemática. Se você mora na China, na Austrália ou no Brasil, não faz diferença: a língua que domina as instituições, a economia e a política é a matemática e é precisamente ela a linguagem cuja difusão o imperialismo europeu favoreceu em todo o globo.

Da linguagem universal da matemática nasceu a revolução dos algoritmos, talvez comparável à da identificação do primeiro trigo domesticado, que permitiu ao homem, de simples caçador e coletor, tornar-se agricultor.

Pois bem, dizem que foi Alcuarismi, um matemático árabe do século 9, que criou o conceito de algoritmo. Perguntado sobre o valor de um ser humano, ele teria respondido:

Se tem ética, então seu valor é igual a 1. Se ademais é inteligente, lhe agregamos um zero e seu valor será de 10. Se também é rico, adicionaremos outro zero e seu valor será de 100. Se sobretudo é ademais uma bela pessoa, agregaremos outro zero e seu valor será de 1.000. Porém, se perde o 1, que corresponde à ética, perderá todo o seu valor, pois somente lhe sobraram os zeros.

Ora, se ética diz respeito a valores morais, que tipo de moral orienta aqueles que controlam os atuais monopólios produtores de algoritmos?

A julgar pelas distorções preconceituosas de seus algoritmos, sua fome de lucros e impactos negativos no emprego, a moral “universal” que defendem procura reduzir todos nós a não mais que zeros sobrantes.

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